Mulheres-mães protagonistas da própria história

O puerpério e nossos dois corações

O puerpério e nossos dois corações

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Antes de ser mãe, é difícil ter empatia ou entender o puerpério. Lembro que uma amiga teve um filho, pouco antes de mim, e eu pensava: “Ela não parece feliz e radiante, que estranho”. Eu já era mãe, mas não conhecia meu bebê. E não entendia. A gente pensa no berço, na primeira roupinha, nos brinquedos, no parto — detalhes.

Seu parto vai ser como seu corpo permitir que seja, ou como seu filho permitir que seja. O berço você não vai usar ou vai usar menos que imagina (o que ele precisa é colo!). E brinquedo… ele vai levar meses para se interessar.

O que a gente precisava saber mesmo é o que vem pela frente. A dor do puerpério e a educação dos filhos. Fiquemos no puerpério por ora.

De um minuto para outro, você não é mais uma. Não pode mais ficar horas fazendo o que quer que seja que você passava horas fazendo. Lembro que passei 3 dias, em junho, pleno verão na Espanha, sem banho até ter alguém pra ficar com meu filho por 5 minutos e eu poder sentir meu cheiro de novo.

De repente, você não pode mais comer tranquilamente, conversando com alguém. Não pode ir pra onde quiser, e nem quer. Não pode mais dormir! Já ficou sem dormir por uma noite de amor e teve que trabalhar no dia seguinte? É isso, só que por um milhão e 300 mil noites.

O puerpério dói. Dói o corpo, a teta, o coração, o estômago dói. Dói a falta de sono, dói a solidão, a exaustão. Dói o amor. A intensidade de tudo dói. Dói o presente e dói o futuro. E dói doer tudo isso. Dói porque você achava que iria ser feliz e radiante. E você está fedida, com sono, esgotada e com fome e com vontade de fazer xixi e sem saber pra onde ir e sem poder ir pra lugar nenhum e sentindo tudo em demasia.

Você agora é duas. Tem dois corações, quatro mãos, duas bocas. E quando doer sua mão pequena, vai doer mais que quando dói a mão grande, e seu coração grande vai bater mais forte que seu coração pequeno, que já bate a mil por hora. E ele vai sair pela boca numa velocidade tão alucinante que você não vai saber mais como colocá-lo de volta.

E essas duas mãozinhas que você ganhou, um dia vão encostar no seu rosto e você vai dar um sorriso em formato de paz e cheio de cores. E essa boquinha nova vai te dar um beijo molhado, baboso e tão quente que vai aquecer até aquela parte gelada do seu novo cérebro. E ele vai te olhar e você vai, finalmente, saber o que é ser vista.

Recém-mamãe, escuta uma coisa: essa dor vai passar! Espera a primeira risada, você vai saber do que eu to falando. Outras dores virão, outros medos, outros desafios, mas essa dor esquisita, nova, confusa, essa dor vai passar!

Mães do mundo: vocês não estão mais sozinhas. Somos uma, somos muitas e temos dois corações.


Autora: Celina Riguetti, psicóloga há 20 anos e mãe há 2. Acolho e oriento pais, mães e cuidadores na desafiadora tarefa de educar: @madre.que.te.pario. Educar filhos é trabalho! De todos que conheço, o mais desafiador! Precisamos de conhecimento e autoconhecimento para educar de forma leve e saudável.

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