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Carreira e maternidade: a recrutadora me aguardando e a bebê chorando

Carreira e maternidade: a recrutadora me aguardando e a bebê chorando

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Após a licença maternidade, eu decidi que não iria mais trabalhar no meu antigo emprego. Era um lugar que já não me fazia bem e eu havia me organizado financeiramente para ficar um tempo a mais em casa com minha filha.

Passados alguns meses do nascimento da Eduarda (e o turbilhão do puerpério), eu comecei a olhar de novo para a minha carreira e como ela seria nesta fase pós-maternidade. Confesso que eu já estava sentindo falta da “Sandra profissional”, que sempre foi tão ativa em mim, mesmo durante a gestação.

A recrutadora e a bebê – parte 1

Comecei a enviar meu currículo para algumas vagas e um dia recebi a ligação de uma empresa que buscava uma Gerente de Marketing, a princípio, com o meu perfil.

Lembro que no momento em que me ligaram, a minha bebê estava no berço e começou a chorar. Eu, rapidamente, fugi para a área de serviço (o lugar mais longe dela na casa) e ao ser perguntada sobre a disponibilidade para uma entrevista no dia seguinte e sobre um início imediato, respondi que tinha uma bebê e que até poderia fazer a entrevista, mas precisaria de um tempo para me organizar antes de assumir a função.

Senti na hora a hesitação na voz da recrutadora. A entrevista, que já estava praticamente agendada para o dia seguinte, foi logo desmarcada. Ela ficou de me ligar nas semanas seguintes, caso não encontrasse ninguém com disponibilidade imediata. Não ligou.

Aquela experiência me fez muito mal. Me senti culpada por estar escondendo a minha filha. Me senti diminuída frente à empresa, me culpei por não estar disponível como eu talvez estaria antes da maternidade. Tudo besteira, coisa da minha cabeça (por que mães se culpam tanto, hein?).

Uma nova fase na carreira pede um novo currículo

Na época em que decidi retomar minha carreira, comecei também a fazer um processo de coaching relacionado ao tema e uma das coisas que identifiquei foi a necessidade de reformular meu currículo. Ele precisava traduzir melhor meus valores e me apresentar de forma mais autêntica às empresas.

Por isso, depois do episódio da entrevista frustrada decidi facilitar as coisas (pra mim e para as empresas), e coloquei de cara no currículo quem eu sou, pessoal e profissionalmente, e qual o meu propósito.

Eu criei uma sessão chamada “Sobre mim”. Este espaço tem uma foto minha e diz o seguinte:

“Sou uma mulher de 37 anos, casada, mãe de uma linda bebê, profissional da área de Marketing e Comunicação e apaixonada por pessoas. Estou em busca de uma empresa que esteja alinhada com meus valores, onde eu possa exercer minha criatividade e trabalhar com meu propósito de fazer a diferença na vida das pessoas.”

A recrutadora e a bebê – parte 2

Alguns meses mais tarde, fui chamada para um processo seletivo de coordenação de marketing de uma outra empresa e a experiência foi totalmente diferente. Eu já estava bem mais segura de quem eu era e a empresa já sabia com quem estava lidando.

Pouco tempo antes da entrevista on-line, minha filha decidiu que não queria dormir de jeito algum (mesmo sendo essa a sua rotina à tarde). Então, eu me arrumei para a entrevista e, no horário combinado, acessei o link pelo computador.

A recrutadora entrou também e já deve ter ouvido os gritos da Eduarda ao fundo. Eu fui logo pedindo desculpas e disse que eu havia tentado até o último minuto, mas que naquele momento não seria possível fazermos a entrevista. Me coloquei à disposição para marcarmos para outro dia.

Desta vez, do outro lado eu encontrei mais empatia e a recrutadora disse que já sabia que eu tinha uma bebê e que poderíamos marcar para outro dia, sem problemas. Ela me disse isso de uma forma acolhedora, o que fez toda a diferença pra mim. Remarcamos para o dia seguinte e deu tudo certo.

Na entrevista, ela me disse que, em mais de 20 anos de trabalho com RH, nunca havia se deparado com alguém falando de filhos no currículo desta forma tão apaixonada, e que isso chamou muito a sua atenção.

Ao longo da entrevista, comentamos que talvez muitas empresas não me chamassem em virtude de eu ter uma bebê. E eu respondi: “Neste caso, essa empresa não serve pra mim”.

Bancando as minhas escolhas

No fim, acabei não seguindo no processo para a vaga de coordenação e não sei quantas chamadas para bons processos seletivos posso estar perdendo por deixar tão claro no meu currículo a minha condição de “mulher já perto dos 40, mãe de uma bebê”.

O fato é que escolhi ser transparente com as empresas sobre o assunto maternidade, pois trata-se de algo muito valioso pra mim e que só somou novas habilidades à minha pessoa, inclusive de uso no ambiente profissional.

Então, a Eduarda fica. No meu currículo e na minha vida.


Autora: Sandra Marcolin, 37 anos, mãe da Eduarda / Porto Alegre, RS, Instagram: @sandrammkt.

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