Das minhas amigas, com 26 anos, fui a primeira a engravidar. E a cada dia que passa, minhas amigas adiam mais a maternidade. Percebo que essa é uma regra geral. Conquistamos independência, trabalhamos, estudamos e queremos uma carreira antes de uma família formada.
Diante disso, somos, em geral, constrangidas a alcançar um patamar materno surreal, porque, nesse cenário, a maternidade surge como um prêmio. Depois de tantos anos, tantas conquistas, você pode se entregar de corpo e alma pra cuidar das suas crias. Só que quando nos tornamos mães, não perdemos nossa essência. Continuamos sendo esposas, namoradas, filhas.
Quando um bebê nasce, ele é uma pessoa como a gente. Ele sente medo, se sente inseguro, assustado. Assim como também pode se sentir amado, acolhido e bem vindo. Da mesma forma acontece conosco. A vida toda. Nossos filhos são gente como a gente. Medo, raiva, tristeza não são exclusividade deles, ou nossa. Quando um idoso ouve do médico que tem um câncer, ele vai sentir medo também. Mas somos, geralmente, compelidas e cuidar deles de forma absoluta, como se pudéssemos absorver qualquer sentimento negativo que possa lhes permear.
Nos esgotamos pra fazer o que acreditamos ser o melhor para os nossos filhos, mas a própria percepção sobre “o melhor” é questionável. E, em busca do “melhor” esquecemos, muitas vezes de questões essenciais, como deixar que nossos filhos se relacionem com outras pessoas e criar suas próprias relações com o outro.
Levadas pelo discurso “mas essa fase passa rápido” nos doamos de forma, geralmente, extenuante. E entramos num ciclo como se nossos filhos só pudessem ter uma vida plena à luz da nossa existência. Se eu tivesse abandonado meu filho no primeiro momento de vida, hoje ele viveria de uma outra forma. Mas existiria. Porque sua existência independe da minha.
O melhor para eles é ter uma criação que lhes forneça ferramentas para encontrarem seus próprios caminhos com independência e autonomia. Uma hora deixamos de ser tudo para eles. Será que essa hora já chegou?
Autora: Jacqueline é mãe de Guilherme, 3 e Gabriel, 2. Autora independente do livro “O Amor de um Gato preto e Outros Desamores”