No Setembro Amarelo, dedicamos especial atenção à saúde mental e à prevenção do suicídio. Este ano, nosso enfoque se volta para um tema delicado e muitas vezes silenciado: a saúde mental materna. Em meio aos desafios emocionais que a maternidade traz, muitas mães enfrentam crises internas que precisam ser escutadas e acolhidas.
Na entrevista de hoje, conversei com Adriana C. A. Figueiredo, autora do livro A 365 Degraus do Fim. A escritora começou sua jornada em 2020, durante a pandemia. Segundo a autora, a maternidade foi uma força motriz que a levou a buscar novos aprendizados e, com isso, se descobriu como uma nova mulher, mãe e autora.
Além de seu trabalho como bancária, Adriana sonha em levar suas histórias a lugares onde, sozinha, não pode chegar. Com seu livro disponível na plataforma Uiclap, ela compartilha sua experiência pessoal e a importância de falar abertamente sobre saúde mental, especialmente entre mães.
Adriana, como foi o processo de criação da sua obra?
Foi um processo intenso, com uma escrita rápida, mas não foi fácil, pois a história é muito densa e dolorosa. Tive a ajuda de muitos profissionais de saúde mental para compreender as dores da personagem e trazer à história uma dose de veracidade. A cada momento, eu navegava nas dores dela e, de alguma forma, sentia, pois sei que muitas pessoas ao meu redor vivenciam situações parecidas.
Por que o nome “A 365 Degraus do Fim”?
O título do livro veio à minha cabeça antes de a história ser finalizada. O propósito principal era permitir à personagem uma oportunidade de reviver e repensar suas dores enquanto caminhava para o seu suposto alívio. Faz referência ao tempo decorrido e também é uma forma de parametrizar a escalada, tornando-a real e decisiva, com foco no fim de uma trajetória.
Quais aspectos da sociedade atual você acredita que mais impactam a saúde mental das pessoas?
A falta de escuta ativa e acolhimento das pessoas, especialmente dos jovens e adolescentes.
A pressa para viver o amanhã, que impede que olhemos com empatia a dor do outro.
A falta de diálogo entre pais e filhos, educadores e pais, organizações e empregados.
Seu livro sugere que toda dor importa e não deve ser desprezada. Como podemos incentivar as pessoas, principalmente mães, a falarem sobre suas dores e buscarem ajuda sem medo de julgamento?
Abrindo espaço para o diálogo, seja na escola dos filhos, no trabalho ou na rua. Observar os sinais mais sutis de sufocamento. Ninguém finge estar com depressão, pelo contrário, as pessoas fingem estar bem. Ter um olhar atento, escutar ativamente, dar oportunidade para a fala e usar a empatia nas relações são passos importantes para que as pessoas ao nosso redor possam falar sobre suas dores. Mães, especialmente, precisam desse olhar na sociedade.
Você acredita que ainda há um estigma em torno do tema saúde mental ou do tema suicídio? Como a literatura pode ajudar a quebrar esse estigma?
A saúde mental ainda é, infelizmente, considerada uma frescura, algo que ninguém precisa falar. O suicídio ainda é um tabu… não se fala sobre o tema, e jovens e crianças estão desistindo da vida por causa da depressão. O suicídio tem números alarmantes, no entanto, o assunto não é discutido.
A literatura é uma importante ferramenta de conscientização.
Como autora, qual é a importância da escrita na sua vida?
A escrita me ajudou a encontrar um lugar no mundo. Eu comecei a escrever no momento mais difícil da minha vida – e da vida de todos –, a pandemia. Isso me trouxe tanto autoconhecimento que não consegui parar. Na sequência, tive um problema de saúde que consegui vencer sem sofrimento, justamente por causa da escrita.
Que impacto você espera causar nos leitores que se identificam com as questões abordadas em seu livro?
Meu maior propósito com este último livro é incentivar as pessoas a olharem ao redor, perceberem as emoções, lerem as entrelinhas. Saúde mental importa. Às vezes, quem caminha conosco vive dramas que nós não imaginamos, e não somos capazes de dar a oportunidade de falarem sobre o que sentem.
Qual conselho você deixa para as mães e pessoas como a sua personagem “Sabrina”, sobre os momentos que estão passando?
Vai passar… esse é o primeiro conselho. Depois, escute os sinais. Os sinais falam. Ninguém finge depressão; as pessoas fingem estar bem. Os filhos demonstram como se sentem, mas não é fácil perceber.
Sinopse de “A 365 degraus do fim”
Sabrina chegou aos 17 anos e achou que era o bastante. Viver nunca fez sentido mesmo, ela tinha insistido o suficiente.
Abandonada, negligenciada, preterida, fora do padrão, doente, sem amigos, sem futuro. O prédio grande e tão abandonado quanto ela pareceu um bom cenário para o fim. Ao menos isso ela escolheria.
Toda dor importa. Nenhuma dor deve ser desprezada. Às vezes, a única atitude necessária é olhar para dentro. A verdade costuma ter três lados: o meu, o seu e o da plateia que observa de fora.
Sabrina pode estar sentada ao seu lado no metrô. Pode estar na sua rua, na sua vizinhança. Sabrina pode morar na sua casa e você não sabe o que ela sente. Ou pensa em fazer. Preste atenção aos sinais, ela era apenas uma adolescente. Antes tinha sido uma criança, nem mudou tanto assim.
Quantos jovens guardam bem fundo suas dores para que o mundo não os questione? Não enxergar uma saída não significa que ela não exista. Fale com alguém, Sabrina. Não suba o último degrau.
Como adquirir a obra: https://loja.uiclap.com/titulo/ua53557
Conheça a autora: @estreiademae