Nasci antes do tempo previsto, e agora? 

Nasci antes do tempo previsto, e agora? 

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Era virada do ano de 2022, na 27ª semana de gestação, quando fui passar o réveillon em Birigui. A virada, na verdade, passei deitada no sofá por conta de fortes dores e indisposição. Passados alguns dias a bolsa se rompeu. Estava com apenas 28 semanas e o bebê pesava 700g. O que fazer? Era quase meia-noite, quando após o banho ia me deitar… mas de repente sinto escorrer um líquido transparente. Que susto! Foi uma corrida para a maternidade, pois tinha certeza de que o Joaquim estava para nascer. Como não estava em minha cidade (Marília, SP) fui para o hospital mais próximo que tinha, no entanto, na maternidade da cidade não havia UTI neonatal para que o bebê nascesse em segurança e tivesse os cuidados necessários, por se tratar de um parto prematuro. Mais um susto e me senti completamente perdida naquele momento. 

Estava distante do meu obstetra e da maternidade onde havia planejado o parto. No entanto, contei sempre com o apoio do meu companheiro, marido e porto seguro, o qual sempre esteve ao meu lado, principalmente neste momento tão desafiador de nossas vidas. 

No meio da madrugada foi necessário me transferir para outro hospital, em uma cidade próxima, que tivesse centro obstétrico e UTI neonatal, hospital este era a Santa Casa de Araçatuba, um hospital do SUS. Novamente senti que a minha vida e de meu filho não estavam mais sobre o meu controle. Tentei uma transferência para a maternidade em que havia planejado o parto, acompanhada de meu obstetra, mas ele muito cauteloso aconselhou-me a continuar onde estava, pois segundo ele, era um ótimo hospital e ali eu estaria segura e bem cuidada, não correndo o risco de fazer uma viagem com bolsa rota. 

Então, desisti de tentar a transferência e aceitei com leveza a situação que me ocorrera. Foi uma jornada de 46 dias. Vinte e três dias meus e vinte e três do Joaquim. Foi então, a partir do dia 12/01/23, no meu segundo dia de internação, que optei pela escrita afetiva como forma encontrar o equilíbrio emocional tão necessário naquele momento e assim alcançar a força que tanto precisava. Decidi escrever um diário autobiográfico sobre o momento que eu e outras mulheres na mesma situação vivenciavam em um hospital do SUS, o qual com o decorrer dos dias percebi que foi a melhor opção que me ocorreu. Além do atendimento humanizado, os cuidados direcionados tanto a mãe, quanto ao bebê e a família de modo integral eram extremamente positivos.  

Foi naquele momento que comecei a gestar um grande projeto, o Projeto Prematurinho, que se iniciou com um relato autobiográfico e hoje contempla diversas ações: o livro “Pequeno manual do prematuro”; página no Instagram @pequenomanualdoprematuro; documentário “Nasci antes do tempo previsto, e agora?”; livro de colorir antiestresse” Gestar, pós-maternar e escrita afetiva”; Websérie: “Falas e afetos: entre o gestar e o pós-maternar”; Podcast legendado informativo que visa possibilitar que pessoas cegas ou surdas conheçam as ações do projeto e se informem sobre os temas: gestação de risco, maternagem, amamentação, prematuridade e escrita afetiva como forma de resiliência e superação e uma pesquisa com profissionais da área e puérperas que está sendo realizada no Hospital Beneficente da Unimar, sob orientação da Profª Dra. Tereza Laís Menegucci Zutin, o qual trará dados que comporão um artigo científico sobre a importância do atendimento humanizado em UTIs neonatais. 

O livro é uma autobiografia, na qual, ora por meio do meu relato pessoal e ora pelo relato do personagem Joaquim, retrato a história do meu parto prematuro e algumas fases que passei desde quando minha bolsa rompeu até o nascimento e primeiro ano de vida do meu bebê. 

O personagem deste livro, o Joaquim, através de uma linguagem lúdica, conta alguns momentos que passou na barriga da sua mãe, seu nascimento antecipado e fases até se tornar um bebê de um ano. Em algumas partes é a mamãe do Joaquim quem faz o seu autorrelato. Além de ser um manual, é um diário autobiográfico permeado por escrita afetiva. Aliás, um ótimo exercício para superar momentos delicados como este. 

Buscou-se esclarecer alguns termos técnicos, procedimentos, cuidados, dicas e etapas do desenvolvimento na vida de um bebê prematuro, pois muitas mães quando se deparam com estes termos, condutas médicas e ambiente hospitalar sentem-se completamente perdidas, já que desconhecem este cenário e repertório médico. 

Além de conhecer estas particularidades, este livro traz informações que atendem as dúvidas de qualquer mamãe, como: pré-natal, tipos de parto, amamentação, primeiros cuidados e o dia a dia de uma maternidade atípica, prematura ou a termo. E tudo isto com uma linguagem divertida e real baseada em relatos de mamães de bebês prematuros, dicas e orientações de profissionais da área.  

O documentário “Nasci antes do tempo previsto, e agora?”, que está no forninho, já foi gravado e logo será disponibilizado para download, abordará temas relacionados ao cenário atual da prematuridade no Brasil, Por que o atendimento humanizado é tão importante ao bebê prematuro e a família?; Causas que podem levar ao parto prematuro; O  que é o parto humanizado; Como a doula pode ajudar o bebê e a família; Autorregulação emocional para os pais; Os benefícios do método canguru e o contato pele a pele para o prematuro; Dicas e cuidados com o bebê após a alta hospitalar e relatos emocionantes e potentes de duas mães que experienciaram a prematuridade. Este documentário conta com o financiamento da Secretaria da Cultura de Marília, tendo sido contemplado no edital 02/2023. Contribuíram para que este documentário fosse construído profissionais da área da saúde que prezam pelo atendimento e acolhimento humanizado a família, de modo integral. Fizeram parte desta primeira fase do projeto, tanto no livro, quanto no documentário, profissionais de diversas áreas: ginecologia e obstetrícia, pediatria, psicologia, terapia ocupacional, fisioterapia, nutrição, direito e enfermagem.  

Conheça alguns profissionais que fazem parte desta primeira etapa do projeto (livro e documentário): Dra. Juliana Jaime (ginecologista e obstetra), Suelen Gama (doula e terapeuta ocupacional), Amanda Pelosi (ginecologista), Caio Pelosi (pediatra neonatologista), Samara Sapez (psicoterapeuta cognitivista), Ana Carolina Tanus (enfermeira e aromaterapeuta), Gisela Iara B. Magalhães (pediatra do IAMSPE), Jaqueline Rossignoli (psicóloga), Carolina Fanti (enfermeira obstetra) e a Dra. Ana Carolina Nonato (FAMEMA) além de muitos outros profissionais excelentes que abraçaram o Projeto Prematurinho. 

Buscou-se com este projeto, produzir um material informativo e formativo que auxiliasse mães e famílias que se deparam com uma gestação de risco, de repente um parto prematuro, uma internação do recém-nascido em UTI neonatal, dificuldades na amamentação e todos os desafios do puerpério que uma gestação pode trazer. Afinal, o momento é mágico e doce, mas situações adversas podem surgir, e nada melhor do que informação, conhecimento e equilíbrio emocional para superar os desafios que a maternidade típica ou atípica traz para a mulher e sua família. E vale lembrar, que em muitos casos, a mulher, passa por tudo isto sozinha, sem um companheiro ou companheira e nem rede de apoio, tão necessária neste momento.  

No término da minha licença maternidade deixei meu emprego formal (professora) e dediquei-me de forma integral ao projeto. Além de poder curtir a maternagem com o meu bebê, sinto-me agraciada, pois consigo conciliar minha rotina de mãe e produtora cultural, proporcionando informação e conhecimento a outras mulheres que passam por momentos desafiadores semelhante aos quais percorri.  

Autora – Daiane Katiuscia Dantas Rocha @daikatiuscia / @pequenomanualdoprematuro 

Revisado por: Gisele Sertão 

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