Coluna – Maternidade e Ensino Superior: A luta das mães estudantes por saúde mental e inclusão

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Cursar uma graduação é um dos maiores desafios que as mães que decidem estudar enfrentam. Isso porque conciliar uma rotina de no mínimo 4 anos em uma carreira universitária, junto às responsabilidades de criar um filho e a falta, muitas das vezes, de uma rede de apoio, tornam este processo uma verdadeira via crucis.

A Universidade, local de estudos, pesquisas e investigações, contraditoriamente no Brasil, não foi concebida como um espaço de acolhimento e inclusão, essencialmente para mulheres que são mães.

O modelo patriarcal e machista da nossa sociedade se reflete em diversos setores e instituições e, lamentavelmente, no ensino superior a situação não é diferente. Ainda que hoje as mulheres sejam maioria nas Universidades, somente em 1879 esse direito foi concedido, e, mesmo assim, a matrícula acadêmica só poderia ser realizada através do pai ou marido.

A maior dificuldade desde então, tem sido ocupar um espaço que não foi criado para nós. Somos invisibilizadas pelas políticas públicas, que ignoram a necessidade de adaptar o currículo e o ambiente universitário para a construção de um ambiente verdadeiramente igualitário.

Saúde Mental

A dupla, — às vezes tripla — jornada da mãe que estuda, que quando além de maternar e estudar, também precisa trabalhar, pode causar um grande desgaste psicológico, fazendo com que muitas vezes o sonho de concluir uma graduação, especialização, mestrado, doutorado, seja interrompido pela falta de estabilidade emocional. E a carga que traz a pressão de ter que dar conta de tudo pode gerar medo, insegurança, frustração, tristeza.

Os filhos serão sempre a prioridade da mãe, que muitas vezes precisarão sair da aula mais cedo para buscá-los na escola, ou faltar a prova porque o pequeno adoeceu e necessitou de atendimento médico. A falta de apoio e de alternativas acadêmicas pensadas em atender as necessidades dessa estudante, pode resultar em baixo rendimento, reprovações, o que aumenta os níveis de estresse emocional.

Ausência de políticas públicas — e de empatia

A maioria das universidades brasileiras ainda não estão preparadas para atender adequadamente as estudantes que também são mães, tanto em termos de infraestrutura, com ausência de creches, fraldários, brinquedotecas, quanto no apoio psicossocial necessário para que elas possam dar continuidade aos estudos.

Embora algumas instituições ofereçam bolsas de permanência, esse suporte muitas vezes não cobre todas as necessidades das mães estudantes. Conciliar a maternidade com estudos, trabalho ou estágios se torna um desafio diário. Além disso, a compreensão por parte da comunidade acadêmica é limitada; atrasos e ausências causados por responsabilidades maternas podem levar a reprovações, evidenciando a falta de empatia com as diferentes realidades vividas por essas alunas.

Uma transformação estrutural é o caminho

Uma transformação estrutural é essencial para que as universidades se tornem ambientes mais inclusivos para as mães estudantes. O primeiro passo é compreender melhor a realidade dessas mulheres, identificando suas necessidades e ouvindo suas experiências. Para isso, é crucial implementar políticas públicas específicas, oferecer treinamentos que sensibilizem o corpo docente, aumento do número de creches em instituições de ensino superior, flexibilização dos prazos acadêmicos e criação de ouvidorias dedicadas a denúncias de assédio.

Além disso, coletivos de mães e grupos de estudo são fundamentais na luta por esses direitos, trabalhando para o ambiente acadêmico ser mais acolhedor e equitativo. Essas redes de apoio, como esta aqui, a coluna Mulheres Estudantes, são indispensáveis para que mais mulheres se sintam acolhidas e representadas e que unidas possam não somente equilibrar as demandas da maternidade com os desafios dos estudos de forma saudável e sustentável, como também terem mais políticas públicas voltadas para a realidade da mãe que trabalha, que cuida da casa, mas que também estuda.

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Se identificou com o tema e deseja mais dicas sobre como conciliar maternidade e estudos? Continue acompanhando a revista digital Mães que Escrevem. Mensalmente você encontrará na coluna Mulheres Estudantes, um novo conteúdo para se inspirar.

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