Maternar com limite

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Escrevendo os momentos densos, dedicando tempo, fazendo o possível para que quem leia na simplicidade se sinta um pouco mais compreendida, pois, no dia a dia, às vezes a gente precisa de um montão de forças para maternar. Esse é um caminho que se compartilha, mas, ao mesmo tempo, é único. Cada mãe vive as suas tensões, dores, delícias e desafios do maternar em uma sociedade do cansaço, do desempenho e do esgotamento.

Como mãe, partilho sobre o desafio e a importância de, nos tempos de hoje, colocar o limite. Seja no maternar solo ou dentro do casamento, seja no maternar da avó ou da tia, o limite é necessário. Mas, o limite que aqui me refiro não é somente aquele que é necessário colocar na educação que damos para o (s) nosso(s) filhos, mas também aquele limite que, como mãe, dou a mim mesma para assim viver uma maternidade saudável.

Quando se trata do limite dado a uma criança, existe no maternar um excesso de permissividade e liberdade ou um excesso de rigidez e domínio. Independentemente de onde você se encontra, saiba que colocar um limite é bastante difícil. Entretanto, ele é necessário para que a criança cresça saudável social, psicológica e emocionalmente. Ele precisa vir do adulto, porque a criança ainda não sabe como colocar um limite em si mesma. Mas o que questiono é: de que lugar, ou melhor, de que estado interior está sendo colocado ou não o limite na criança?

Como mães, vivemos em uma sociedade do cansaço e penso que somos as maiores vítimas dessa sociedade. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han afirma que a sociedade do cansaço é a sociedade do desempenho e, portanto, gera um esgotamento excessivo. Explico melhor: se existe uma sobrecarga materna devido ao acúmulo de funções, ou seja, pelo fato de a mãe ter de cuidar da casa, dos filhos, do casamento e ainda dar conta de complementar a renda familiar, atualmente, além da sobrecarga, existe a cobrança pelo alto desempenho. É preciso dar seu máximo e sermos boas em todas as funções que temos.

Como mães, na sociedade do desempenho, sentimos a exigência de produzir cada vez mais e melhor, vivemos constantemente um sentimento de carência e de culpa. Isso não tanto, porque o outro do lado de fora nos cobra ou nos culpa, mas, sobretudo, pois nós mesmas nos cobramos sempre por mais e melhor, assim como nos culpamos por não dar nosso melhor. Na sociedade do desempenho, a mãe torna-se aquela que cobra dela mesma, isso quer dizer, ela explora a si mesma. No mundo do trabalho, regido pela força do desempenho, a mãe sofre de uma autoexploração e uma sutil autoviolência.

Na sociedade do cansaço e do desempenho, a mãe precisa, então, colocar um limite a si mesma para manter a sua sanidade física e mental. O limite serve para ela não se cobrar demais por eficiência, por perfeição, por alto desempenho. É preciso o limite para evitar o esgotamento excessivo e outros adoecimentos psicológicos. O limite é dizer não ao esgotamento, é dizer não a autoexploração, é dizer não a essa violência sutil que praticamos em relação a nós mesmas. É viver sendo mãe e sem se cobrar pela perfeição, sem sentir que está em falta, sem exigir tanto de si mesma, sem viver de modo tão acelerado.

Desconfio que é de um lugar de falta de limite, e, portanto, de excesso de exigências sobre si, e de um lugar de cansaço, que se colocam os limites ou não na vida dos filhos. Muitas mães, por trabalharem excessivamente, por cobrarem demais de si, por estarem cansadas tornem-se permissivas. E, do mesmo lugar, outras mães, para ter controle e dar limites tornam-se mais mandantes ou autoritárias usando de proibições e recompensas. Contudo, o limite, como aquilo que dá saúde para a mãe e contorna o caminho da criança, precisa vir de um estado interior de calma e amorosidade.

No esgotamento do dia a dia, é questão de saúde encontrar dentro de si um estado interior não de esgotamento e de raiva, mas de calma e amorosidade. É desse lugar que deve ser colocado o limite em relação à criança e em relação às autocobranças. Mas, como nós, mães, podemos chegar até aqui? O que pode ajudar a encontrar um lugar saudável para colocar o limite necessário é praticar yoga, buscar uma terapia (por ex. constelação familiar), meditação, buscar a medicina do cacau ou escrever. Dentro de uma sociedade de vidas aceleradas e desesperadas, isso é um tempo de qualidade que toda mãe pode dar para si.

O que ainda pode ajudar a encontrar um lugar interior não de esgotamento, estresse, cansaço, é não aceitar ser ou tornar uma mulher esgotada por almejar o alto desempenho e a perfeição como profissional, mãe, esposa, amante. Talvez seja preciso uma dose de aceitação da condição de Ser humana e outra dose de coragem para ser imperfeita! Também percebo que é preciso ter um compromisso com os bons pensamentos. Ao cultivá-los, você se conecta com as suas boas ações, reconhece os seus esforços como mãe dentro da sociedade em que vive.

Por fim, sei que a maternidade é um caminho só de ida e, para andar para frente e bem, é preciso, antes de tudo, colocar limites. Se faz isso a partir de um espaço interior saudável, se faz isso para poder viver melhor. Sei que cada maternar é único e, assim, é do meu singular maternar que partilho essas reflexões sobre limite, amorosidade e maternidade. Espero que quem escute, em sua singularidade materna, viva um pouquinho melhor!

Por Tatiana Betanin – @maternidadeeautoconhecimento

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