Coluna – Filhos de imigrantes: Cidadãos do mundo

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Para quem mora fora de seu país, todo regresso é em algum aspecto, muito marcante.
Com filhos então…

Da última vez que estivemos no Brasil, há quase 3 anos, nossa filha era um bebê que não andava, não falava, ainda mamava e mal sentava direito. Tínhamos ido, após a looonga espera devido à pandemia, apresentar nosso rebento à toda família. Foi especial, claro. Mas, para mim, foi o caos na terra.

Ninguém nos respeitava como pais, todos tinham algo a dizer, queriam tirar meu bebê da rotina, eu mesma não tinha me encontrado ainda no meu novo papel materno, me sentia mais perdida do que nunca enfrentando uma depressão pós-parto pesada e uma família que parecia de uma maneira geral bem despreparada para receber um novo bebê (e um novo pai, e uma nova mãe) na família.
Não foi culpa de ninguém. Mas ninguém sabia bem o que era certo ou errado no trato conosco como nova família, e todas as expectativas acabaram por ficar perdidas em algum lugar incoerente.

Enfim, esse ano fizemos uma nova tentativa de visita em nossa querida terra da garoa, atravessando o oceano, agora com uma criança. Não mais um bebê. Uma mini pessoa. Que anda, fala, tem vontades, chora, reclama e fala tudo o que vem na cabeça.

E foi mágico. Reapresentar minha filha para nossa família foi uma das melhores experiências da minha vida. Eu tive a sensação de que finalmente consegui recolher todos os pedaços que o parto e a depressão sacudiram para fora de mim e colá-los de maneira primorosa para fundamentar minha nova e melhorada eu. Foi como sair do armário da maternidade. Agora todos poderiam saber a que vim. E que mãe eu sou e poderia ser para a minha filha.

Foi maravilhoso. Poder apresentar tudo e todos para minha filha foi algo realmente mágico. Ao final da viagem a saudade já começava a nos comer pelas beiradas e deixar nossos corações dilacerados e ela, sem dúvida, percebeu. Nos perguntava por que estávamos tristes e explicávamos que sentiríamos muitas saudades de São Paulo quando voltássemos para “casa”.

No auge de seus três anos e uns quebrados, minha filha solta a seguinte verdade simples e real demais: a gente vai para casa e depois a gente volta para o Brasil e depois a gente volta pra casa de novo.

Carreguei esse raciocínio comigo durante todo o trajeto de volta. Em doze horas, muita coisa pode passar em nossas cabeças. Era simples assim.
Se não pensássemos que precisamos trabalhar, tirar férias, fazer malas, ganhar muito dinheiro para pagar as despesas da viagem e do vôo, a resposta para nossa tristeza e saudade era realmente simples assim.

Dizem que quem vive fora nunca mais é feliz. E isso é imensamente real. Tudo o que temos aqui, não temos lá, mas o fator humano de termos todas as pessoas do mundo em nossa terra natal parece tirar todo peso, tristeza e dor no coração de estarmos sozinhos cuidando de uma criança pequena em uma terra distante.

Percebi durante essa viagem que minha filha não sofre da mesma mazela que eu e meu marido. Para ela é muito simples. A casa dela é aqui e lá. É onde os pais dela estão e ver que ela se sente ótima aqui e lá aquieta um pouco o coração dessa mãe imigrante que coleciona culpas…

Ainda bem que os filhos de imigrantes são assim. Nascem com um pé aqui e outro lá, nascem já sendo cidadãos do mundo.

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