Mulheres-mães protagonistas da própria história

Família Doriana

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“Se não enlouquecermos, nós já vencemos como família” – disse meu marido depois de mais um jantar regado a choro, reclamações e comidas no chão.

Antes de casar e ter filhos imaginamos a seguinte vida em família: piquenique no parque, um cochilo agarradinho e uma divertida guerra de travesseiros. Sim, essas cenas até são reais, mas creio que representam 20% de um dia, os outros 80% são divididos entre as funções realizadas sem nenhum tipo de emoção e a outra metade preenchida de conflitos, disputas e insatisfações.

Dentro do nosso lar, diante das birras, pedidos deslocados, o cansaço, frustrações, falta de espaço e dinheiro, colocamos nossos demônios para fora. Como sabiamente escreveu Caetano Veloso na música Vaca Profana, “de perto ninguém é normal”. Eu acho que até Buda gritaria de raiva depois de separar sete brigas entre irmãos. Pessoas diferentes, cada uma com seus desejos, expectativas e traumas, convivendo intimamente e expondo toda a sua vulnerabilidade. Não tem como ser tranquilo.

E fica ainda mais difícil porque idealizamos um modelo de família, reforçado pelas imagens em revistas, propagandas e redes sociais. Li no livro Suíte Tóquio que “Não há nada mais distante da vida do que a idealização da vida”. Antônio Prata também me disse, numa crônica, que nós inflacionamos a felicidade; nenhuma felicidade real chega aos pés dessa que criamos. A única possível é a promessa de felicidade.

Temos que desromantizar a maternidade, a parentalidade, o casamento, o amor, o trabalho e o sucesso. Assumir a vida ordinária. Nossa varanda gourmet e nosso quintalzinho cool nada mais são do que a Casa Verde de Machado de Assis: o manicômio onde o alienista internou metade da população por desvio de personalidade. Eu olho para cada janelinha, para cada muro, para cada portão e penso: ali dentro ninguém é normal.

Tem briga em alto tom. Tem briga fina, briga baixaria e tem até briga silenciosa. Claro que existe uma considerável dose de amor, equilíbrio, felicidade, cenas fotografadas e eternizadas. Mas assumamos: todo o resto é treta.


Por: Jessica Marzo – Instagram:@jemarzo

Revisado por Luiza Gandini.

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