Eu não quero homem de sofá

Eu não quero homem de sofá

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Hoje consigo enxergar que, a vida inteira, andei com uma mochila nas costas chamada insegurança. O excesso de críticas, as expressões de desaprovação, o medo das reações exacerbadas me espremeram numa caixinha muito pequena e sufocante.

Percebi que, durante toda a minha vida, me coloquei menor. Mesmo sem conhecer, eu já era pequena o suficiente. Eu não conseguiria; minha vida era limitada demais.

Eu namorei seguidamente porque, quem seria eu sem um homem para me dar existência? Afinal, era quase como se eu realmente não existisse. Eu precisava do repertório de alguém. As minhas roupas eram inadequadas, a minha fala não era nada, a minha desaprovação, a minha revolta, eram porque eu não sabia lidar com a realidade.

Que realidade, afinal, que eu não sabia lidar? A sua, a que você criou! Um mundo de ódio, de amargura, de um bando de desgraçados, de pilantras, vagabundos. Um ambiente de tensão até ao cortar um pão. Uma conversa cheia de piadinhas e ofensas escondidas, de olhares maliciosos e de um sorriso sem luz.

A criança, a menina, a mulher se moldaram a isso. A esse padrão de desrespeito, diminuto, escasso. Meu coração nunca aceitou fazer isso com os outros, e eu precisava fazer de alguma forma. A vítima era eu mesma.

A fumaça era turva demais. Eu não via nada além das minhas limitações e sempre aceitei pouco demais também. Eu sempre me doava mais em relacionamentos, seja de amizade, de amor, de trabalho. A impressão era que eu sempre estava em dívida com alguém. Preciso servir para pagar, mesmo que não fizessem o mesmo por mim.

Me colocava em ambientes que talvez não fossem me acrescentar em nada, mas, pelo menos ali, eu podia acrescentar algo. Ser um pouco maior do que aquela caixa.

Hoje, estou com um cara que parece me deixar falar, mas parece não querer ouvir. Hoje, estou com um cara que parece me apoiar, mas não se interessa pelo meu processo. Talvez ele espere um resultado final, quantificável. Hoje, estou com um cara que diz estar tentando melhorar, mas a primeira coisa que faz é sentar no sofá. Hoje, estou com um cara que fez das datas de aniversário e celebrações algo totalmente banal, enquanto eu amo celebrar.

Eu não quero mais um homem de sofá. Eu NÃO ACEITO mais um homem de sofá.

A maternidade me trouxe um lugar bem além daquela caixa sufocante. Ela me trouxe uma força exponencial de ser o exemplo que meu filho precisa.

Então, eu não preciso mais caber. Eu não quero mais caber.
Eu quero transbordar.

Por Rebeca Nussenbaum – @rebecanussenbaum_
30 de julho de 2024

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