Eu, Mãe e?

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Mãe.
Sonhei com esse “título” por muito tempo. Foram anos de estudo e preparo durante a adolescência; depois de trabalho, espera, exames e resultados frustrados já adulta. Até que um dia, dois meses depois de um dos “nãos” mais doloridos que já ouvi (fiz uma inseminação artificial sem sucesso), vi minha esperança ressurgir em dois traços que indicavam um teste de gravidez positivo.
De lá para cá, já se passaram quase nove anos e duas gestações. Sou mãe de duas crianças incríveis, que transformaram tudo em minha volta.
Junto com essa realização e transformação (física, mental, financeira…), vieram também o medo, a culpa e a preocupação constantes. Imaginava isso antes, mas a intensidade só veio com a prática. Sabe o que veio também?
A falta. Falta de tempo, de sono, de vontade de cozinhar, de saber todas as respostas… de mim mesma. É como se tivesse deixado de ser eu e passasse a ser só mãe. Em muitas situações, Mãe virou até meu nome – isso é bem irritante, mas é assunto para outro dia.
Durante esses quase nove anos, depois de duas gestações, novas rotinas e adaptações, entrei em modo automático. E só me dei conta disso outro dia, quando participando de uma roda de conversa, ouvi a seguinte frase: “Conte três qualidades suas”.
Comecei a pensar no que responder e só a palavra Mãe vinha à cabeça. Entrei em um conflito comigo mesma, enquanto a minha vez de responder não chegava. Antes, sempre tinha a resposta ali, de bate e pronto! E agora estava naquela ansiedade toda! Deu até um frio na barriga, sabe daqueles que a gente sente quando vai fazer uma entrevista de trabalho?
Pois a minha vez chegou e ainda não sabia o que responder. Consegui elencar uma, mas aproveitei a oportunidade, e o privilégio de estar em um lugar seguro, para comentar que precisava redescobrir as minhas qualidades e/ou habilidades. Obviamente, saí do encontro com a cabeça cheia de questões e decidida a encontrar respostas.
Sei que outras mães – se não, todas – compartilham desse sentimento comigo. Talvez a percepção aconteça em momentos diferentes da vida de cada uma, porém um dia chega. Parece ter um vazio, que não dá para encher com o que existia antes, porque não faz mais sentido.
Sei que amadureci, mudei e ganhei cabelos brancos. A intenção não é fazer uma lista, mas me reconhecer. Sim, ser mãe é uma parte – ou será a mais? – importante da minha vida, da minha personalidade. Digo isso pois a maternidade me fez aprender a amar de uma maneira tão profunda, que isso, por si só, já muda o tom de tudo.
Aprendi a priorizar, a dar mais valor à presença, ao carinho, às pessoas queridas. Aprendi a ler bula de remédio, a dividir o último pedaço (ou quase tudo) do meu doce. Entendi que as memórias são mais importantes do que nunca, apesar de não lembrar o que jantei ontem.
Mergulhei em um novo processo de autoconhecimento, com mais clareza daquilo que não quero ser mais. Acho que essa capacidade de reinventar é mais uma habilidade que aprimorei depois de ser mãe. É cada coisa que a gente precisa fazer para a criança tomar banho sem reclamar…
Outro dia, por coincidência, assisti a um vídeo da Thais Vilarinho (@maeforadacaixa) falando sobre a maternidade e a necessidade da mãe se olhar como indivíduo, de encontrar pequenos respiros no dia. Ela fez um paralelo com aquela orientação que é dada durante os voos, para colocar a máscara de oxigênio primeiro em você, para depois ajudar ao outro. O que faz todo sentido, porque, se eu não estiver bem, saudável, como vou cuidar e estar com os meus?
Ouvi e me identifiquei na hora. Justamente porque tenho feito um esforço enorme para descobrir e desfrutar desses momentos, mesmo que pequenos ou pontuais, de “máscara de oxigênio”. Tenho explicado para minhas crianças o quanto ter a oportunidade de fazer algo que eu goste é importante para mim e que também é uma chance para elas descobrirem coisas novas.
Sigo pensando muito sobre isso. O desafio é transformar toda essa reflexão e aprendizado em algo concreto, sabe?! Para deixar a resposta na ponta da língua?
Não quero ser pega de surpresa de novo!

Por Patrícia Póvoa Cruz – @jubi_comunicacao

Revisão: Gisele Sertão

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