Minha relação com a escrita sempre foi muito intensa. Mas, depois da maternidade, escrever se tornou o meu refúgio.
Nós, mães, precisamos colocar para fora o que sentimos para desromantizarmos a maternidade “perfeita”, e tornar a nossa carga, tão farda, mais leve.
Antes de ser mãe, eu sabia, porém, não fazia ideia do quão difícil seria maternar.
Quando nos tornamos mãe, vivemos um luto que ninguém nos conta.
Nos despedimos de uma versão nossa que nunca mais voltará a existir. E é um processo doloroso. Não tem como ser leve. Muito menos em uma sociedade tão patriarcal, que não apoia a maternidade.
Para Laura Gutman: “Quando planejamos uma mudança para outro país, presumimos período de adaptação, o aprendizado de outro idioma, a aceitação de novos códigos de convivência, a ausência de amigos e um mundo a se descobrir. A chegada do primeiro filho produz na mulher uma perda de identidade semelhante, embora parir não seja exatamente como mudar de país: é mudar para outro planeta”.
Essa definição explica tudo. Não sabemos mais onde está a identidade que acreditávamos “conhecer tão bem”. Entramos em um novo mundo e vivenciamos de forma única, a solidão da maternidade moderna. Não, isso não é pessimista, isso é real.
Falamos tanto de emancipação feminina, de direitos das mulheres, mas esquecemos de reivindicar casas de partos, parto humanizado, doulas, enfim, quanto mais mecanizado o nascimento, parece ser melhor.
Mas não é assim. A mãe torna-se invisível socialmente, sem aldeia em um mundo desconhecido, em que tudo fica de cabeça para baixo. E abrimos mão de muita coisa, para poder sobreviver a esse caos.
Suspeito muito quando uma mãe diz que a maternidade está sendo “fácil”. Acredito que ou ela mente para si mesma ou está negligenciando o fato. Porque de leve ela não tem nada.
Mesmo quando existe o apoio de pessoas para auxiliar, a sociedade como está contraída impede que ela tenha essa leveza.
Na sociedade contemporânea, maternar é desafiar um sistema que vai contra você.
Além da licença maternidade curtíssima, lidamos com julgamentos constantes: se retornamos ao trabalho, se não trabalhamos fora, se damos fórmulas ou se amamentamos.
Palpites e mais palpites de quem mal entende de educação e criação de filhos, mas insiste em dizer o que pensa sobre o filho alheio.
Se existe alguém que a sociedade insiste em condenar é a mãe. Todo o sistema é formado para isso aconteça. Sendo assim, ser mãe é fazer um malabarismo constante para não surtar.
Não há nada de romântico, por isso escrevo. Porém, ainda assim, a maternidade é a experiência mais humana que existe, pois ela é a essência do amor.
Ser mãe é o maior desafio da minha vida e esta experiência me faz entender o motivo do patriarcado funcionar tão deliberadamente.
Por isso escrevo sobre a maternidade, pois é a minha ferramenta de revolução e refúgio.
E principalmente de amor.
Autora: Karine Costa.
Revisão: Gisele Sertão — @afagodemaeoficial