Quando me tornei mãe, a minha vida mudou por completo. Confesso que sabia que seria assim, mas não imaginava a dimensão e a potência dessa transformação.
Das mais simples às mais complexas questões, tudo foi, pouco a pouco, e algumas vezes, rápido demais, se modificando.
As noites completas de sono acabaram. Meu corpo, que na gestação era abrigo,
passou a ser alimento e deixou de ser somente meu.
Fora as mudanças que aconteceram nele. Muita coisa “caiu”. Algumas partes ficaram mais flácidas e as medidas aumentaram, incluindo o tamanho do pé, hoje indefinido.
Muitos amigos se afastaram, em grande parte pelo total abismo da vivência, mas pudera né?
Meus assuntos, antes variados, começaram a girar em torno de sono, rotina, cólica, cocô, amamentação, introdução alimentar, dentes, vacinas e por aí vai.
Sem falar no tempo para dedicar a uma ligação. Quando raramente acontecia, a exaustão era tão grande que “socializar” se tornava meu último desejo, apesar de sentir uma falta absurda de conversar com outras pessoas.
O relacionamento com o meu marido também entrou no combo e precisou se reajustar.
A nossa boa comunicação ajudou bastante, mas, depois que a minha filha chegou, passou a não ser suficiente. Era preciso mais. Muito mais.
Nos tornamos duas pessoas exaustas falando línguas opostas. Um desafio daqueles.
A maternidade mexeu em tantas coisas que, de verdade, não caberia aqui.
Mas, para mim, a principal mudança que eu só percebi com o tempo, foi a resiliência adquirida e o tanto de coisa que chegou com ela.
No tempo certo a gente começa a enxergar e entender melhor as coisas.
Aprendemos que não adianta muito planejamento, pois em um instante tudo muda e o caos se instaura. E lá vamos nós nos reajustarmos, ao inesperado, afinal é necessário.
Fazemos as pazes com a paciência, ela que é tão indispensável para lidarmos com os conflitos cotidianos.
Aprendemos a ter outra percepção do tempo; se antes desejávamos que ele passasse logo (com todas as dificuldades), nos assustamos ao sentir na pele, através das roupinhas perdidas e novas habilidades adquiridas, a sua finitude.
A gente finalmente aprende a viver o hoje, o aqui e o agora. O nosso coração se expande tanto que, consequentemente, nos tornamos seres humanos melhores.
Temos a oportunidade de curar nossos traumas, e nos é apresentada uma valiosa segunda chance de encontrar e resgatar a nossa criança interior.
A gente ri mais, aprecia mais, se entrega mais, tudo ganha o “mais”, inclusive a nossa vida.
Conhecemos o nosso verdadeiro amigo: nossa criança.
Nos sentimos, com frequência, as pessoas mais sortudas do mundo e experimentamos a cura de qualquer tristeza através de um sorriso que, apesar de tão pequeno, se mostra o mais potente do mundo.
O relacionamento com o nosso parceiro é lapidado e, com muita conversa, dedicação e vontade de fazer dar certo, as coisas se tornam melhores do que já foram um dia. Apesar dos novos desafios, a admiração mútua ganha um novo tom quando conseguimos nos enxergar através dos novos papéis exercidos.
Os momentos a dois se tornam ainda mais especiais e, um dia, no meio de uma atividade comum, a gente se dá conta de como a nossa vida está melhor do que antes, mesmo sem toda aquela “liberdade” — contraditório, mas real, assim como toda a experiência materna.
A gente renasce. Se redescobre e aprende a amar cada detalhe dessa nova versão, às vezes tão diferente do que éramos, mas, sem sombras de dúvidas, muito melhor.
Com frequência, nos assustamos com o fato de um ser humano ser completamente dependente de nós, mas logo percebemos como isso nos move.
Aliás, esse é o verdadeiro motivo pelo qual passamos a ser destemidos e conscientemente capazes de tudo. Depois que temos filhos, a vida ganha outro tom: indescritível, mas, totalmente perceptível.
A gente transborda. Que sorte a nossa.
Autora: Laryssa Soares. @matemorfose
Revisão: Gisele Sertão — @afagodemaeoficial