Li sobre seios que racham, sobre noites mal ou até não dormidas, sobre as terríveis crises que assolam os casais com filhos pequenos e mais um monte de coisas sobre perder a liberdade que para nós mulheres, é tão cara.
A conclusão que cheguei, é que tudo isso é importante ser escrito e reconfortante de ser lido. Saber que você não é um alien, que outras mães passam pelo mesmo, nos traz algum alento.
Mas hoje, eu vou escrever, e gostaria muito que você lesse, sobre o amor. Uma das coisas que me pegou desprevenida na maternidade, é a quantidade de coisas das quais você precisa se lembrar e justamente em um momento em que você está começando a ter certeza de que o seu cérebro virou uma gelatina: tem o calendário de vacinas e quando foi a última vez que mamou, aquele cocô estranho foi ontem ou foi hoje? Ao sair de casa, não esqueça de colocar todos os 13.132 itens essenciais na bolsa e de verificar se os bodys guardados não estão ficando pequenos, limpe o umidificador de ar todos os dias e não esqueça de fazer o rodízio de brinquedos.
Depois começa a fase da creche/escola e a cada conferida na agenda, o recado da escola pedindo toda sorte de outro e especiarias, que você terá 12 horas úteis para providenciar. Amanhã é dia de traje caipira e se a sua filha for a única criança de uniforme, você vai se autoflagelar o dia inteiro.
O ponto aqui é: São tantos detalhes e demandas em um cérebro que não vai bem das pernas, que é fácil esquecer de muita coisa. Eu sei que a gente lembra dos nossos filhos o tempo inteiro, eu sei que os amamos, mas a gente lembra disso? Na data em que escrevo esse texto, minha filha tem três anos, algo que ela ostenta em toda oportunidade, exibindo seus três dedinhos do meio para todos os parentes conhecidos.
Quando era bebê(sim, para o meu alívio e terror, não tenho mais um bebê em casa) meu marido tomava banho de chuveiro morno com ela nos braços todas as noites antes de dormir. Nós lembramos disso e sentimos muita saudade, hoje ela consegue tomar banho praticamente sozinha (participação especial dos brinquedos que ficam criando fungos no banheiro). Eu lembro muito de todo amor que envolvia esse momento, mas eu não lembro de estar cansada ou de qual estado estava a pia(transbordando provavelmente de louça). Eu lembro de como ela tomava banho de balde e engatinhava pela casa, lembro da primeira vez que ela almoçou e dessa vez eu lembro da bagunça, mas como uma lembrança boa.
Quando olho para trás, tudo o que eu lembro é amor, por que o amor não está em tudo o que vejo agora? Antes de dormir, ela deita no meu braço a noite e a gente conversa como duas amigas. Ela me pergunta coisas que eu não sei responder: “Quais animais não têm rabo?”, e me pergunta coisas que eu sei responder: “O que as girafas gostam de comer?”, às vezes ela me pergunta coisas que eu nunca tinha perguntado a mim mesma: “Qual sua parte favorita do dia?” Por que eu vou esperar esses momentos virarem saudades para lembrar do amor? Eu amo ser mãe, eu não só amo a minha filha, eu amo ser a mãe dela e às vezes nem posso acreditar que dei tanta sorte.
Reproduzo hoje todos os clichês da maternidade (ou apenas os que avaliei serem saudáveis) arrumo lancheiras, penteio seu cabelo e digo que está lindo como de uma princesa, mês que vem é junho e eu preciso logo começar a dar uma olhada nos vestidos de quadrilha. Eu compreendo que muitas dessas oportunidades de boas lembranças, são possíveis graças a alguns privilégios que possuo, mas eu compreendo também que eu não posso deixar de lembrar que o prazer de dar um cheirinho na moleirinha mole e de sentir aquela mãozinha minúscula na minha bochecha é a maior de todas as bonanças da vida e que esse gosto, o cansaço não vai mais me tirar.
Por Katarinne de Araújo – @instadakatarinne