Mulheres-mães protagonistas da própria história

Corpo estranho

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Por: Bárbara N Rocha – @tragicronicasdamaternidade.

40 dias após o parto, o médico diz que posso voltar às atividades normais. Não entendendo bem o que ele quer dizer com isso, mas assumo que seja algo como pegar uma fila, pagar boletos… Coisas “normais”.

Resolvo, então, ir ao correio rastrear umas roupas de bebê que comprei nesses sites da China. Entro na fila para voltar às tais atividades normais. Um cutucão nas costas me indica que a prioridade é ali. Sem reação, pego a outra fila. Logo, chamam olhando em minha direção: “a grávida pode vir”.

Em casa, sigo direto para o espelho: “Que corpo é esse?” Pareço, de fato, uma grávida de 5 meses. Mas a barriga agora é mole e pelancuda. E esse quadril? Quando foi que atingiu essa largura? De onde surgiram essas coxas grossas e um tanto flácidas? Olha essas estrias no bumbum. E nas coxas e barriga também. Que corpo estranho! Não me reconheço. E experimento um jeans bem larguinho que eu usei até metade da gravidez. Não passa nem nas coxas. Tento uma saia. Cabe só uma perna. Que corpo é esse?

Então, quando o médico se referia a “atividades normais” eram as atividades físicas?

Quando vou arrumar tempo para ir à academia? E se eu tiver tempo, não é preferível aproveitar pra dormir?

Algumas lágrimas depois, faço matrícula na academia. E começo a ir às 6h da manhã, o único horário possível. São os 30 minutos mais exaustivos do meu dia. Eu queria dormir, mas tenho que retornar às tais atividades “normais”.

Um mês de sacrifícios madrugando e volto a encarar o espelho. Aquele corpo estranho continua ali. A balança indica 1 quilo a menos, mas as roupas ainda teimam em não servir.

Sigo nas atividades “normais”, digo, físicas. E resolvo ir num dermatologista também. Sem as manchas, quem sabe a autoestima com o corpo melhora? Mas não posso fazer muita coisa porque estou amamentando, e cremes devem ser evitados. Vou numa nutricionista. E dietas também não são indicadas para lactantes.

E o único jeito é encarar a maldita academia, mas começo a faltar porque preciso dormir. Maternar cansa mais do que pegar fila. É difícil conciliar com as atividades “normais”.

Seis meses depois, poucos quilos a menos e grande parte das roupas ainda teimam em não entrar. O corpo estranho continua ali.

E troco a academia, o nutricionista e a dermatologista pela terapia. Aceito que meu corpo não vai voltar ao que era antes. Por nove meses, ele foi alterando-se para gerar uma vida. E essa grande mudança na minha vida é permanente. Agora o corpo pré-gravidez é que é o corpo estranho.

Então, resolvo comprar roupas novas pra mim naquele site da China pra ter que pegar uma fila de novo no correio. Afinal, normal mesmo é pegar fila e pagar boleto. O resto é padrão imposto pela mídia.

Revisão: Angelica Aparecida – @angelicaafilha

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