Hoje lembrei de quando estava grávida do meu primeiro e único filho e perguntei a uma colega, que também estava grávida e tinha um filho de cerca de 6 anos, se ela assistia (antes) aos episódios dos desenhos animados que ofertava para ele. Eu me surpreendi com a resposta dela, que era muito cuidadosa, mas que, obviamente, disse que não assistia. Hoje, chega a ser hilário lembrar da minha pergunta. Felizmente, ela teve paciência com aquela jovem grávida de 23 anos. Parece que foi em outra vida, porém faz apenas quatro anos. Tudo isso! Como tudo mudou, como eu nunca poderia imaginar, em apenas quatro anos. Essa foi uma dentre as muitas romantizações que vieram com a gestação. “Vou ter um parto natural; vou amamentar; não vou deixar que ele coma doces ou carnes; que ele assista à TV; que vá para escolas tradicionais e nunca vou gritar ou bater nele”. Esse filho nunca existiu. Apesar das expectativas românticas, eu não estava vivendo um sonho. Estava longe de ser. Eu tinha engravidado do meu primeiro namorado, devedor de pensão, com um histórico de violência doméstica, desempregado, viciado em recuperação e com muitos outros problemas. Cogitei um aborto. Eu, na metade do meu mestrado em Ciências Sociais, tinha uma dissertação para escrever e logo acabaria a minha bolsa. A situação se aproximava mais de um pesadelo do que um sonho. Escondi por meses a novidade! Essa sensação contraditória, entre o sonho e o pesadelo, eu venho vivendo desde então. Ao mesmo tempo, em que eu desejava que a gestação não fosse real, eu cuidava de cada detalhe, esperando-o. Apesar da expectativa de que o “feto” não sobrevivesse, eu sonhava com os possíveis nomes, comia o meu abacate com limão e mel, tomava vitaminas, fazia caminhadas, exercícios específicos e estudava sobre o parto e cada fase do desenvolvimento do ser humano. Tentava controlar tudo, para que nada desse errado. De repente, minha maior preocupação havia se tornado a educação formal dessa criança e comecei a pesquisar, freneticamente, sobre tudo o que a envolvia. Muitas preocupações. Muitas idealizações. Ansiedade. Necessidade de controle. Quando me dei conta, estava cursando Pedagogia à distância. Meu universo todo se tornou aquele bebê, que mostrava que não ia desistir de vir ao mundo. E veio. Já durante o trabalho de parto, veio quebrando expectativas, idealizações, preocupações, convenções. E segue sendo assim nos últimos quatro anos. Uma criança porreta, em todos os sentidos, que despertou o pior e o melhor de mim. Que não me deixa descansar, mas também não me deixa acomodar. O mais belo acidente que poderia ter me ocorrido. O mais belo encontro. O mais belo e improvável pesadelo. Dele, tiro duas lições. Uma delas foi jogada na minha cara já no meu intenso parto a jato: eu não tenho controle de nada. A outra é jogada na minha cara todos os dias junto com a primeira: sou cheia de contradições, incoerências, incongruências e inconsistências… tenho sido forçada a me despir de poses, máscaras. Tenho sido forçada a me livrar de expectativas e pré-ocupações. Esse encontro me demanda no presente!
Por Júlia Puri – @juliaflecher
Revisão: Angélica Filha