Como a internet e os influenciadores afetam e moldam os jovens

Por Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados

Como a internet e os influenciadores afetam e moldam os jovens

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Em uma sociedade cada vez mais ameaçada pela violência e pela insegurança física e financeira, muitos pais passaram a “proteger” seus filhos dentro de casa, uma solução motivada pelo medo e pela falta de segurança nas ruas, onde antes era possível caminhar sem a constante preocupação com assaltos ou conflitos violentos. Além disso, sair com as crianças tornou-se um desafio financeiro em um cenário de economia precarizada, onde cada centavo é essencial para o básico. Com a popularização da internet, a distração das crianças e adolescentes migrou para as redes sociais, oferecendo aos pais momentos de tranquilidade, mas expondo os jovens a um ambiente sem filtros, senso crítico ou ética, onde frequentemente circulam conteúdos ilegais.

Devido a tudo isso, os influenciadores digitais tornaram-se figuras centrais na vida dos adolescentes, moldando comportamentos, opiniões e hábitos de consumo e de vida. Embora muitos criadores de conteúdo promovam informações úteis e motivacionais, a influência excessiva e até intencional, pode gerar consequências negativas no desenvolvimento psicológico, social e emocional dos jovens. O fenômeno da influência digital deve ser analisado com cautela, especialmente pelos riscos inerentes ao consumo acrítico de conteúdo nas redes sociais.

O impacto na autoestima dos adolescentes

Um dos principais perigos está relacionado à construção da autoimagem e da autoestima dos adolescentes. Muitos influenciadores apresentam estilos de vida idealizados, frequentemente editados e filtrados para parecerem perfeitos. Essa exibição contínua de padrões estéticos inatingíveis pode gerar insatisfação corporal, transtornos alimentares e ansiedade/depressão, uma vez que os jovens se comparam constantemente a modelos irreais.

Outro aspecto preocupante é a disseminação de desinformação. Muitos influenciadores compartilham conselhos sobre saúde, nutrição e bem-estar sem embasamento científico, levando adolescentes a adotarem práticas prejudiciais, como dietas extremas, automedicação ou tratamentos estéticos inseguros. A ausência de regulamentação no conteúdo digital facilita a propagação de informações incorretas, colocando em risco a saúde física e mental dos jovens.

Além disso, a influência digital contribui para o consumismo impulsivo. O marketing de influência disfarçado de opinião pessoal incentiva os adolescentes a adquirirem produtos e serviços sem necessidade real. Muitas vezes, eles não percebem que estão sendo persuadidos por publicidade sutilmente integrada ao conteúdo. Essa prática pode gerar endividamento precoce, frustração e um senso distorcido de necessidade material, reforçando a ideia de que a felicidade está atrelada ao consumo excessivo.

A normalização de comportamentos prejudiciais também é um fator preocupante. Alguns desafios virais promovidos por influenciadores envolvem atividades perigosas, como consumo de substâncias ilícitas, exposição a riscos físicos e práticas de bullying virtual. Influenciadores digitais e grupos denominados de “red pill” e “incel” norteiam o pensamento dos adolescentes para terem comportamento agressivos contra mulheres e a população LGBTQIA+. 

A nova série “Adolescência”, da Netflix, escancara esta realidade de uma forma brutal, trazendo à tona o que a sociedade já sabia, mas tinha medo de discutir. Jovens sempre buscaram comunidades que geram senso de autoaceitação e buscam este senso no mundo digital. A busca incessante por validação e pertencimento pode levar adolescentes a imitar condutas inadequadas, antiéticas e ilegais apenas para se sentirem aceitos dentro de comunidades online.

A dependência digital é outro efeito negativo associado ao consumo excessivo de conteúdo de influenciadores. O uso prolongado das redes sociais compromete o desenvolvimento social e cognitivo dos adolescentes, reduzindo a interação presencial, prejudicando a concentração nos estudos e impactando negativamente o sono. O ciclo de recompensa proporcionado por curtidas e comentários reforça a necessidade de cada vez mais aprovação externa, tornando difícil o estabelecimento de uma identidade autônoma e saudável.

A exposição precoce e excessiva à internet também aumenta os riscos de exploração infantil e vulnerabilidade emocional. Alguns influenciadores expõem suas vidas pessoais e de seus filhos sem considerar os impactos psicológicos dessa exposição. Além disso, adolescentes que compartilham detalhes íntimos nas redes podem se tornar alvos de assédio, pedofilia, golpes ou exploração digital.

É preciso apoio e conscientização

Diante desses riscos, torna-se essencial o acompanhamento parental, a conscientização sobre os perigos do consumo passivo de conteúdo digital e a valorização de interações sociais fora das telas são medidas fundamentais para mitigar os impactos negativos da influência digital (se forem possíveis devido à violência). Escolas e famílias devem definir limites sobre o uso da tecnologia, ajudando os adolescentes a distinguirem entre realidade e ficção no ambiente virtual.

Os influenciadores digitais têm um papel relevante na sociedade contemporânea, mas seu impacto sobre os adolescentes exige uma abordagem crítica e responsável. O equilíbrio entre o consumo de conteúdo digital e a vida offline, aliado à educação sobre os riscos das redes sociais, é essencial para garantir um desenvolvimento saudável e equilibrado. A construção de uma relação mais consciente dos perigos da internet pelos pais e escolas podem definir os parâmetros aceitáveis do uso da internet.

Patricia Punder, é advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020. 

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