O nascimento de um filho é uma revolução. Nada fica igual. As roupas mudam de lugar, algumas até saem de cena. De repente, suas redes sociais também não são mais as mesmas. No seu feed, você passa a não ver apenas aquela conhecida viajando de avião com sua família, o colega que teve uma promoção no trabalho ou sua amiga de infância, com quem não conversa há muito tempo, jogando beach tennis. Postagens sobre parto, sono, amamentação, cuidado com o bebê e desenvolvimento bombardeiam sua timeline.
O conhecimento que você passa a ter acesso amplia seus horizontes. Se sabia pouco ou nada sobre bebês, seu repertório dá um salto surpreendente. Você passa a conhecer mais sobre desenvolvimento infantil, o que é esperado a cada mês e como estimular. Sabe sobre a pega correta da amamentação, a importância do ritual de sono e algumas massagens para alívio das cólicas. Antes de seu filho nascer, você já tem um arsenal de estratégias para lidar com o que aparecesse.
No entanto, as informações não trouxeram apenas conhecimento. Em algum momento, você passa a questionar se ele já não deveria estar dormindo a noite toda ou, melhor ainda, pegando no sono de forma autônoma. Preocupa-se com o fato de ainda não engatinhar, mesmo que esteja dentro dos parâmetros da idade. Você compara e questiona seu maternar sem gentileza, a mesma que você costuma usar com as outras pessoas para acolhê-las e validar o que sentem.
Se por um lado o conhecimento venceu barreiras e você está mais informada, por outro se compara cada vez mais. Sua vida não parece tão interessante como a dos outros. Além disso, seu arsenal de estratégias não funciona como imaginava. Nos primeiros dias depois do nascimento, parece que não conseguirá viver a amamentação exclusiva. Mesmo depois dos seis meses, ele luta para dormir e acorda várias vezes, ainda que tenha seguido as dicas sobre rituais, janelas e sinais de sono. A casa está bagunçada, você não consegue retomar suas atividades como gostaria, sente-se cansada. Tão diferente do que acompanha nas suas mídias sociais.
Mas, você esquece que visualiza apenas selecionadas frações daquela “vida ideal”. Que o bebê real não segue protocolos rígidos. Que a informação que liberta também pode aprisionar quando vem cercada de padrões idealizados de como as coisas devem ser. Que as estratégias de marketing utilizam seus sentimentos de insuficiência e incapacidade para venderem.
Só que você descobre, que a mãe que “está dando conta de tudo” acabou de se separar do marido e foi morar com os pais, os quais têm ajudado no cuidado da criança. Que aquele bebê que viajou de avião chorou boa parte do tempo e todos chegaram esgotados ao final do destino. Que o filho da vizinha que dorme a noite toda sempre teve facilidade para pegar no sono, ainda que ela não tenha seguido uma rotina tão estruturada com ele. No fim, você começa a entender que é uma comparação injusta e cruel com você mesma.
Com isso, você tenta se relacionar de um jeito diferente consigo mesma. A gentileza, que te acompanha no trato com os outros, começa a dar as caras. É um esforço e um treino, afinal a vida toda foi de outro jeito, mas você já dá passos em direção a isso. O conhecimento torna-se um norte, não uma prisão. O olhar sobre seu filho e sua realidade é colocado como prioridade. A sua vida passa a ser mais colorida e leve, ainda que haja dias nublados e de tormenta.
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Autora: Gabriela Rizzo Perossi – @gabrielaperossi.psicologa