Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Para todas as mães que já colocaram a culpa do choro no descascar a cebola

COLUNA | Para todas as mães que já colocaram a culpa do choro no descascar a cebola

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Sim, a maternidade cansa. Vem gente de todo lado dar pitaco. Ajudar a trocar a fralda, ninguém. Isso nos tira a energia. O corpo da gente muda. Aquela mulher que a gente era antes, fica lá na mesa do parto. Outra surge.

Pessoas que se diziam “amigas” somem. A gente fica se perguntando o que fez. Respondo: você não fez nada e elas sumiram foi tarde. A gente fica chateada. Olhamos pros pequenos, ali, tão dependentes de nós. Agradecemos a Deus. Mas a vontade é de se desmontar em lágrimas.

Ao amamentarmos em público, somos julgadas. Se damos mamadeira, somos julgadas. Se nos escondemos pra oferecer o peito, somos julgadas. Pais fazem o básico e são aplaudidos. Nós, mães, nos matamos pra sermos “mães perfeitas” e somos atacadas com uma chuva de críticas destrutivas.

Noite de sono não existe mais. O bebê também não está nos melhores dias. Estava bem no útero, tinha tudo ali. De repente precisa fazer força pra mamar. Precisa chorar pra que a fralda seja trocada. Dormir a noite toda é quase impossível nos primeiros meses. E a gente quase surta. 

Nada disso não vem escrito em algum manual de gestante.

Pra piorar o que está difícil, a gente tem a péssima mania de querer fazer tudo. O pai pouco faz, a gente tá ali naquela de “eu fazer é melhor”. Cada um tem um jeito de fazer algo pelo bebê e ambos jeitos estão certos. Você com seu jeito e o pai, se você tiver marido e for participativo, tem o dele.

Aí você quase morre pra decidir se volta a trabalhar ou pedir demissão. Mas você sempre foi aquela que acordava cedo pra ir pro emprego e tinha orgulho de ter o próprio dinheiro. Então, você volta ao trabalho. Te demitem depois de algumas semanas. E você sofreu por ter que deixar o bebê numa escolinha ou com alguém pra cuidar.

As pessoas perguntam do bebê. De você, nada. Querem dar atenção ao bebê. E você vai ficando esquecida. Colo, carinho e atenção ele já tem. Quem precisa de visita, cuidado e afago é você. Quase ninguém percebe isso.

E você, tentando voltar a ser aquela pessoa que era, procura emprego. Daqui e dali. E nada! Descobre que mulher não pode engravidar, nem parir, muito menos voltar de licença e querer trabalhar.

Sua cabeça já não é a mesma. Sua aparência muito menos. Aquele bebê te exige muito. O cansaço vem à galope. Você se cobra “tenho que estar feliz, pois foi o melhor que me aconteceu”. Mas não é bem assim.

Foi o melhor? Foi. Mas você não é uma máquina de criar filho. Você é humana. Aquela mulher que tinha orgulho em levantar cedo e ir trabalhar, de repente está em casa. Cuidando de casa, fillho, marido e tentando cuidar de si.

Bebê acorda, chora, você troca fralda. Alimenta. Bebê dorme. Você também quer dormir. Até dorme. Mas o bebê acorda de novo. É assim mesmo. Daqui a pouco você se acostuma a nunca mais dormir aquele sono de horas e horas sem interrupção.

Aí chega o fim da tarde. Você deu carinho. Ganhou sorrisos. Está bem cansada. Marido está pra chegar do trabalho. Você pensa que terá umas horinhas sozinha na cozinha. 

E é tudo que você quer. Então você vai fazer a janta e a cebola é seu escape. Você chora por tudo isso. Diz que foi a cebola. Se ela mesma, a cebola, pudesse fazer algo, te abraçaria bem forte.

Mesmo amando seu filho, você pode querer ser só você. Tem todo o direito de ficar cansada. Pode desejar umas horas sozinha. Pode querer sossego, silêncio. Tudo bem sentir tanta coisa. É muita mudança em sua vida de uma vez. Não somos preparadas pra isso.

A gente se perde de nós mesmas com tanta novidade. Tanto pitaco absurdo. Tanta “pediatra” que surge por onde a gente caminha. As pessoas anulam a nossa maternagem boa parte do tempo. Se a gente não está segura da mãe foda que é, nos sentimos péssimas mães. 

Chorar alivia o peso disso tudo. Não se culpe por se sentir assim. 

As mamadas na madrugada são solitárias nos primeiros meses. O bebê vai crescendo, se desenvolvendo. Você vai se adequando a nova vida. Alguns dormem entre duas mamadas a madrugada toda. E depois vão dormir toda a noite sem precisar mamar. Outros chegarão aos seis anos de idade sem esse feito.

Não tente ser uma mãe perfeita. Seja “só” mãe pro seu filho e já estará de bom tamanho. Aceite esse momento como desafiador e vá no seu limite

Tire tempo sozinha com seus pais, amigas. Vá à estética, cuide de si. Faça massagem. Ande sozinha no shopping. Você não tem que estar com seu filho o tempo todo. E horas com você mesma, só vai te fazer é bem. 

Daqui a pouco você já consegue ter de novo o cabelo como sempre gostou. Seu corpo vai começar a voltar ao lugar. O inchaço vai diminuir. Você vai conseguir se organizar em casa pra não dormir sempre que o bebê dormir. 

As coisas vão voltando ao seu curso normal. 

Ser uma mãe contente faz mais bem ao seu bebê, que uma mãe estafada. Ao notar que seus sentimentos estão indo pra um lado que não deveria como alguns sintomas que estão nesse artigo, peça ajuda psicológica. 

Chorar com a cebola passa a ser o escape diário. Mas e o dia que não tiver a cebola? Você vai pro banho? Se trancar no banheiro? 

Maternidade é olhar pro serzinho e nos sentir sortudas. Mas é também aquela fralda cheia, que o material desce pelas pernas do bebê e a gente só quer sair correndo. 

Não é errado chorar, sentir peso de tudo isso. Se o caminho da volta tiver difícil, fale com uma profissional. Aqui mesmo, no site, tem pessoas que se propuseram a fazer preço social para terapia. 

Quando o peso da maternidade fica complicado de carregar sozinha, a terapia vai te segurar no colo.

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