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COLUNA | Setembro Amarelo e o direito de voltar pra escola

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A ciência avança e as certezas que temos sobre a pandemia também se modificam.
Há seis meses, mais 776 milhões de alunos foram retirados das salas de aulas, pois acreditava-se que este seria o principal fator de contaminação.

Este mês descobriu-se que mandar as crianças à escola, acampamento ou creche tem o mesmo risco de trabalhar em escritório e visitar idosos em casa, sendo ainda mais seguro do que ir a salão de beleza ou barbearia, comer em restaurante, ir a academia, parques de diversões, cinemas ou bares (todas estas atividades liberadas de acordo com o plano São Paulo vigente).

Logicamente, grande parcela da população tem receio de enviar seus filhos à escola, mesmo com protocolos e turmas reduzidas, mas há ainda uma parcela que depende e precisa da escola como rede de apoio ou espaço de socialização.

Entretanto, 17% das crianças entre 9 e 17 anos não tem acesso à internet e 26% dos alunos da rede pública não recebe atividades pedagógicas não presenciais, e 31% dos pais temem que seus filhos desistam dos estudos, se não acompanharem as aulas em casa. A evasão escolar já é idealizada por 30% dos jovens. Destes, cerca de um quarto tem entre 15 e 17 anos (idade escolar obrigatória).

O acesso desigual ao ensino aprofunda ainda mais a desigualdade entre alunos da rede pública e privada, o que poderia dificultar o acesso à universidades públicas, assim como diminuir a renda futura. A evasão escolar, por exemplo, implica em renda até 60% inferior e maior envolvimento com o crime.

O confinamento infanto-juvenil, embora afaste do risco de contágio na escola, apresenta enormes deficiências para o desenvolvimento de habilidades sociais, risco nutricional, identificação e solução de déficits de aprendizagem, abusos físicos, psicológicos e sexuais.

A Academia Americana de Pediatria elenca estes motivos, assim como depressão e ideação suicida como razões para o regresso de aulas integralmente presenciais desde o mês de junho.

As dificuldades dos pais de ensinar e das escolas de incluir crianças com necessidades especiais faz com que a relação parental fique desgastada em algumas famílias, elevando stress e ansiedade tanto dos pais quanto dos filhos.

Em pesquisa realizada em agosto 74% das crianças e jovens foram identificados como tristes, ansiosos ou irritados, patamares que sobem a cada nova pesquisa.

Embora a abertura dependa da adesão aos protocolos de segurança, os países que já retomaram as aulas presenciais demonstram que as crianças contribuem pouco para a cadeia de transmissão, que o percentual de crianças que contraíram covid-19 é de apenas 2% (embora sejam 24% da população mundial, e que, quando infectadas, apresentam 2,2 vezes menos óbitos do que quando adoecem por gripe (influenza).

As escolas fechadas também se traduzem em desigualdade de oportunidades profissionais. Embora algumas famílias se utilizem de cuidadores (que muitas vezes cuidam de crianças de diversas famílias), creches clandestinas ou deixem as crianças (não tão pequenas) em casa, muitas precisaram sair do mercado de trabalho formal para cuidar dos filhos.

Apenas 46% das mulheres trabalha ou procura emprego atualmente, patamar semelhante ao de 1990, e estudos sugerem que as mulheres que pretenderem reinserção após a vacina terão dificuldades de encontrar emprego.

Atualmente 81% das famílias não querem o regresso às aulas em São Paulo neste ano, o que permitiria o retorno em segurança para as demais famílias, que querem ou dependem da escola.

O setembro amarelo é o mês de prevenção ao suicídio, e os prognósticos para este ano são de dobrar o número de suicídios juvenis, conforme estudo realizado no Chile.

O suicídio é o último grau de auto anulação de uma pessoa. A depressão e transtornos mentais, mesmo que sejam identificados e sanados antes da tentativa, ainda podem significar mutilação, impossibilidade de realizar as atividades diárias, isolamento, dificuldades de relacionamento familiar, abuso de substâncias e marcas físicas e psicológicas que perdurarão toda a vida, sendo ainda um ponto de atenção para eventuais recaídas.

Neste momento, para muitas famílias, a promoção de saúde mental dependeria da abertura das escolas, já que esta possui inúmeros papéis, inclusive de socialização com seus pares, que têm as mais diversas realidades, possibilitando o exercício da empatia e promoção de inclusão, assim como promove acesso a adultos confiáveis (sobretudo para as crianças que sofrem abusos físicos, psicológicos ou sexuais), estabelece de normas sociais, promove independência e valoriza a cultura.

Ainda que nenhum conteúdo novo seja transmitido, o acolhimento e a convivência teriam resultados benéficos para um grupo importante da comunidade escolar (quase um quinto das famílias), que deve ter acesso ao direito de ir à escola.


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