Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Maternidade sem imposição de gênero

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Várias amigas já me questionaram se a minha filha conhecia a Frozen. Não! Ela, tem quase 3 anos e não conhece a Frozen.

Aparentemente, este é um “crime inafiançável” no mundo “infantil feminino”; minha filha corre um “sério risco de perder o gênero que foi designado a ela no dia do seu nascimento” porque, pelo simples fato de ser menina, ela já tinha que ter visto Frozen.

Crio minha filha sem imposição de gênero. Isso quer dizer que não é porque ela é menina que eu vou apresentar várias princesinhas a ela e se fosse menino, vários dragões/caminhões.

Minha filha coloca uma coroa e boné na cabeça ao mesmo tempo, bonecas em carrinhos e adora fingir que caixas são carros em alta velocidade e pede para que eu a empurre bem rápido para sentir a adrenalina.

Brinquedo não tem gênero

É importante termos em mente que: Brinquedo é igual a: Criança. Não existe “brinquedo de menina ou de menina” e toda vez que me perguntam: “nossa, este brinquedo é de menino ou menina?” Eu digo: “estou buscando um pênis ou uma vagina pra fazer a distinção”.

Vale ressaltar, que se o brinquedo tiver um pênis ou uma vagina, daí já não é mais brinquedo para criança e também vale ressaltar que gênero vai além de designação de órgãos sexuais.

Pare de impor gênero às nossas crianças! Eu não compro nada rosa a minha filha! NA-DA. “Mentirosa, eu já a vi vestindo rosa”. Justamente, por isso EU não compro. Porque eu sei que ela sempre vai ganhar alguma “coisinha RO-SA”, afinal ela é menina e “Meninas usam rosa e meninos usam azul”, não? bom, não na minha casa. Se ela quiser usar um arco-íris! Ela usa. Cores não definem gênero e mesmo se definissem. E daí? 

Está imposição de gênero não está presente somente em nós sociedade (na nossa mentalidade) ou nas cores e brinquedos: Afinal, meninas brincam com bonecas e meninos com carrinhos. O que será de um menino brincando com uma boneca? Um pai? Um ser humano com mais empatia?

Roupas e Gênero

Desde que minha filha nasceu, é uma batalha constante para comprarmos roupas (Ok! Seja grata por ter privilégio socioeconômico de acesso a roupas a sua criança, Natália. Tendo em vista que muitas mães, mulheres, crianças não tem este mesmo acesso a compras de roupas e vivem de doação. Recorte de classe feito, prosseguimos).

Eu sempre tenho que ir em duas sessões de roupas, a de meninos e meninas. “Ok, Natália. Tu queres vestir tua filha igual a um menino. Isso já foi longe demais”. Não, eu só não quero que ela pense que por ela ser menina ela não pode ter frases e desenhos legais e imponentes em suas camisetas/roupas como os meninos. Por exemplo: Dinossauros, leões, dragões, “eu sou forte”, “futuro astronauta”.

As das menina são animais domésticos que mostram doçura e como domesticáveis nós somos: “cachorrinhos”, “gatinhos”, (o que tudo bem se TU gostas/ tua criança gostas, mas não está bem se só temos esta opção ou se isso é o que nós estamos impondo a nossas meninas, pelo simples fato de serem meninas, ate porque “gosto” é construção social). E frases como “princesinha da mamãe”.

Então, por favor! Parem de impor gênero na criação da minha filha e criem seus filhos(as) livres de uma imposição de gênero. Deixem suas crianças livres para escolherem seus brinquedos, suas roupas, o que vão consumir e, além disso, os questionem: “filha, tu consegues se ver como essa princesa? Por quê? O que tu achas que uma princesa faz e por que tu queres ser uma?” “Por que tu gostas de princesas?”; ou “filho, tu gostas deste bombeiro? Por quê? Tu se vês como um? Meninas podem ser bombeiras?

Nunca é muito cedo para conversar com suas crianças.

Representatividade

Ah, e vocês ainda devem estar a se questionar: Por que a filha dela não ver Frozen

Pois bem, vos explico eu moro em um país altamente conservador, os Estados Unidos. Embora, eu esteja em uma cidade altamente progressista, Nova York (estou em uma bolha), porém eu tento limitar o conteúdo de tudo que minha filha tem acesso. Este filme não nos representa!

“Ela pode ser quem ela quiser” não quando a mídia perpetua a imagem de uma princesa que esta longe de ser o que se parece a minha filha, sejamos realistas, todos nós aqui enxergamos as cores da pele destas princesas: Quando muito agora estão a nos representar e que bom que estejam, nossas crianças precisam disso.

Ser cego daltônico “colorblind” o termo em inglês, não nos torna antirracistas, mas sim nos ajuda a camuflar o racismo estrutural, assumamos que somos diferentes que está tudo bem ser diferente.

Talvez, quando ela estiver maiorzinha, tenha interesse, mas neste momento eu não irei impor este filme ou nenhum outro só porque ela e menina, alias “porque você é menina” não deveria ser resposta/justificativa para nada.

Minha filha seguirá sem ver Frozen, obrigada. Antes de dormir, eu e ela fazemos um exercício de amor próprio (que eu já vi outros pais e mães fazendo, amei e introduzi a técnica aqui em casa).

Como mãe de uma criança multirracial/multiétnico-racial: Eu penteio seu cabelo na frente do espelho, erguemos nossos braços e dizemos algumas palavras de comando/empoderamento: “menina, poder, feminista, linda”, eu a abraço, digo que a amo, lemos um livro e coloco minha pequena para dormir.

E agora que ela está falando, está a colocar suas próprias palavras, uma mistura sem tamanho “Bebê, negro (cor em espanhol), daddy (pai em inglês), mami (mãe em espanhol)”, isso tudo erguendo seu bracinho.

Minha pequena não assiste Frozen, conhece princesas por livros, mas o seu critério de “princesa” não é nada arcaico, mas sim progressista: Uma menina que luta por espaços de poderes e que é linda por ser quem ela é. Está é a minha princesa. Quem é a sua princesa?

Como mãe, quero ensinar que ela não precisa esperar que um príncipe a resgate, ela mesmo pode se auto resgatar.

Ela não precisa de um “salvador”, porque eu quero que ela seja a única heroína da sua história/vida.

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