Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | Mãe e pesquisadora: não tenho que abrir mão da maternidade para ser quem eu quero

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Ser mãe e estar no meio de um mestrado não é nada fácil, na academia quando as pessoas descobrem recebo aqueles olhares de pena, como se eu fosse uma coitada ou louca, ouço muito “nossa, não sei como você consegue”, mas o problema não está na maternidade em si, e sim no preconceito de conciliar a criação de um filho com a vida acadêmica e científica.

Fui mãe aos 17, terminei o ensino médio e parei com os estudos, dediquei os primeiros anos de vida do meu filho a ele, foi uma escolha possível para nós, e sei que não é a realidade de muitas mulheres, tenho uma rede de apoio incrível. Quando ele completou 6 anos, retomei os estudos, e mesmo com toda a rede de apoio que tenho, sempre foi complicado.

Ele me acompanha desde a graduação, fui iniciação científica, então meu contato com a pesquisa iniciou há 5 anos, já tive que levá-lo em aulas importantes, dias de prova, eventos, apresentação de trabalhos, pois por mais que eu tenha uma rede de apoio, tem dias que somos só nós dois e o mundo.

Costumo dizer que ele tem mais hora complementar que aluno de graduação, e foi em mais evento que aluno de pós. Minha pesquisa de campo fica em outra cidade e ele já viajou várias vezes junto comigo, visitou os arquivos, as universidades, e esteve presente até nas entrevistas que precisei coletar. Ele é meu parceiro de pesquisa e aproximá-lo do que faço ajudou ele a compreender a necessidade que tenho de estar fora, ele conhece o processo e consegue entender quando estou em casa, mas estou ausente.

Não é fácil para mim e nem para ele, me realizo enquanto profissional e tenho certeza que seria uma péssima mãe se não me realizasse no que faço, e se já não bastasse as renúncias e as dificuldades que passo, tenho que enfrentar os olhares, a desconfiança e “nunca ser boa o suficiente” por não produzir tanto quanto um homem ou uma mulher sem filhos.

Trabalho o dobro, meu esforço precisa sempre ser maior, a carreira que escolhi não é vista como profissão, as pessoas acham que eu “só estudo”, e por ser da área de humanas, que não produzo nada relevante. E mesmo assim, eu persisto, mulheres não desistam de ser aquilo que você quer, a maternidade não define quem você é, ela é uma das partes que te constitui.

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