Coluna – Carta aberta para Eva Scartezini

Coluna – Carta aberta para Eva Scartezini

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Mãe, esta é a primeira vez que eu escrevo na coluna de uma revista tão necessária como a Mães que Escrevem.

É uma grande realização e simbolismo, também por ser no mês das mães.

Sem dúvidas, é o texto mais difícil da minha vida, pois também é a primeira vez que eu me permito escrever para você depois da nossa despedida tão precoce e dolorosa.

É o 16º Dia das Mães sem você, vivendo a maternidade de primeira viagem.

Eu fui a última a saber da sua partida e era uma menina de 12 anos, conhecendo o mundo, sem ter um colo para correr quando tudo parecia insuportável.

O pai invalidou meus sentimentos. O faz até os dias atuais.

Primeiro, o bullying no ensino fundamental, e meu pai respondia tudo como “leva na esportiva, ri junto com eles”.

O pai conheceu outras mulheres e até se casou com uma tempos depois, que, ao invés de me acolher, me maltratava e me humilhava.

Na vida adulta, busquei por afeto em relacionamentos, me sujeitei a terríveis experiências, sofri tentativa de feminicídio com uma faca apontada para o meu pescoço.

No início da pandemia, fui atropelada em cima da faixa de pedestres, na frente de um posto de gasolina, e ninguém sequer teve a humanidade de me oferecer suporte.

Nessa mesma época, eu conheci o pai da Zayla.

Meses depois, minha primeira gestação não evoluiu e, em meio aos hormônios à flor da pele, eu sofri abusos da rivalidade feminina e, nesse período, eu ainda não tinha conhecimento da gestação até me desligar da empresa onde vivi situações desnecessárias de estresse.

Em 2022, minha bebê arco-íris que faz homenagem a você no segundo nome, Zayla Eva, foi a segunda experiência mais desafiadora da minha vida. Em 2024, sofri outro aborto espontâneo.

Ainda lembro quando eu alegava não querer ser mãe, pois você partiu quando eu mais precisei de você, e eu sei que você não estava bem psicologicamente também.

Teu colo me faz tanta falta, a gente nem teve tempo de ter conversas maduras e se conhecer melhor.

Eu queria tanto que estivesse comigo quando a Zayla nasceu e poder vê-la crescer. Ela amaria tanto ter você como avó.

É indescritível a sensação de ser amada por uma criança. A minha força vem dela.

O vazio que você deixou será difícil vencer nesta vida.

Aquele 15 de agosto de 2009 ficou marcado para sempre.

É desesperador a despedida de alguém que não vai mais poder compartilhar bons momentos, nem poder sentir o abraço aconchegante novamente.

Crescer e superar o que eu superei sozinha me fez pensar na mãe que eu quero ser hoje e que eu tenho certeza que você seria desse jeitinho. Só pela forma como eu observava você cuidando do seu genro quando estava com um resfriado forte, como se relacionava com as amigas, vizinhas.

Do pouco tempo que eu tive contigo para aprender, herdo costumes dos quais eu me orgulho muito, como ser gentil espontaneamente e sempre estar de prontidão para ajudar o outro.

Você era extremamente humana, humilde e corajosa. Foi forte até o último instante. Dói demais não poder olhar nos teus olhos e dizer o quanto eu te amo, mas tenho fé que esse momento vai chegar novamente, eu quero acreditar.

No Dia das Mães, as melhores lembranças ficam, a dor perdurará até eu te ter por perto novamente, ah, como eu queria.

Com amor e muita saudade,

Daisy, sua caçula

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