Quando eu tirei dois anos da vida para o meu autocuidado, eu estava doente e exausta. E com isso, eu não percebia que o meu período de descanso era visto por outras mulheres-mães como um privilégio. Com o passar dos meses, eu comecei a me questionar:
- Por que o autocuidado não chega até as mães negras de periferia, que são a maioria das mães no Brasil?
- Por que não têm creches nas empresas, para que as mães possam trabalhar com tranquilidade e manter a saúde mental?
- Por que mulheres-mães ganham menos e fazem tripla jornada, sem tempo pra cuidar delas mesmas?
- A quem servem as indústrias da beleza, da moda, da alimentação, do “bem-estar”?
O capitalismo nos transformou em dependentes do tempo, da aparência e do patriarcado. Vivemos numa sociedade terrivelmente desigual, em que o autocuidado está vinculado à classe social, raça e gênero.
Para o filósofo francês Michel Foucault, o autocuidado é liberdade. Aprender a cuidar da mente, do corpo e da alma traz sabedoria. Leva à autorreflexão. Faz a gente perceber que existem formas melhores de viver do que as que o capitalismo nos impôs.
Cuidar das nossas necessidades, das nossas emoções, da nossa saúde. Autocuidado é tudo isso. Cuidar de si traz sim muita liberdade. Mas também responsabilidades. Porque o autocuidado deve ser uma prática coletiva. O pessoal é político!
Precisamos lutar para que todas as mulheres-mães possam ter o autocuidado que elas necessitam para viver melhor. E essa luta envolve debates, ativismo e questionamentos.
As cargas de trabalho que temos são aquelas que desejaríamos para as mulheres-mães que apoiamos?
Que tipo de autocuidado é inclusivo e deveria chegar a todes?
O modo como nos relacionamos com outras mulheres-mães é aquele que acreditamos que ajuda na transformação social?
Precisamos da pausa e do descanso para restabelecer forças. Eu pude perceber isso na minha própria trajetória. Mas falar de autocuidado exige um compromisso ético e uma posição política. O bem-estar não é um privilégio, mas um direito.