Entre Estrelas possivelmente irá te fazer chorar. Mas também irá te abraçar e te acolher, de uma forma especial, que somente uma mãe que sente essa dor sabe o quanto precisa desse acolhimento. A coluna Entre Estrelas é para mães que infelizmente não tiveram a chance de segurar o seu bebê.
É difícil escrever sobre uma dor que você carrega consigo todos os dias e que também a esconde constantemente, mentido para todos que está tudo bem, até para você mesma. Hoje eu me olhei no espelho, na correria da manhã para ir trabalhar e lembrei dessa dor.
A dor do luto. Faz mais ou menos 3 meses que tive um aborto espontâneo. Era minha terceira gravidez e a segunda vez que eu passava por uma perda gestacional. Minha primeira perda, foi uma gravidez ectópica, a qual eu conto minha história aqui. E a segunda foi uma perda espontânea, algo mais “comum” (um triste comum ou como disse meu médico, coisas da natureza).
Passar por essa dor pela segunda vez, foi tão dolorido quanto na primeira. A escuridão e as perguntas foram ainda mais pesadas e constantes. E a minha maior e constante pergunta para Deus era e ainda é: por que preciso passar por isso mais uma vez?
Eu não sei como é a sua fé, nem se você acredita em Deus ou em algo maior. Eu fui criada na igreja católica, mas eu acredito que Deus está em todas as religiões, amo a Umbanda, acredito no espiritismo e em tudo que faz do ser humano uma pessoa melhor e que o ajude a seguir em frente com alegria, confiança e fé.
Eu amo Deus, mas Ele sabe que estou chateada com Ele. Afinal eu escutei, de muitas pessoas, mais uma vez, toda aquela ladainha de que “Deus tem planos melhores”, sobre “não ser a hora” e etc, etc. Essas frases doem, mas eu sei que nelas existem as melhores intenções e a esperança de confortar meu coração, e de me trazer respostas para o que não existe resposta.
E mesmo não existindo resposta, eu estou aqui, na busca dela. Entre tantos choros e perguntas, eu criei ou encontrei um propósito, uma missão, mas não uma resposta.
“Acalentar e acolher todas as mulheres que passaram ou um dia passaram por uma perda gestacional.”
E essa minha missão começa aqui, na Revista Mães que escrevem.
Eu me tornei mãe da Louise em 2020 e vi na maternidade o melhor de mim. Escrever e ajudar as mães já é um amor que eu tenho dentro de mim. Me sinto radiante quando entrego respostas para amigas sobre as fases do bebê, dificuldades na amamentação ou de como eu fiz o treinamento para a Louise dormir sozinha.
Hoje, por uma questão de destino, eu adquiri diferentes “skills” na maternidade. Esses que eu tão pouco queria, mas que vieram mesmo assim. Aprendi e aprendo todos os dias a lidar com o luto das minhas perdas e com essa dor de ter gestado, mas não ter segurado meu bebê.
Sinto que minha missão é chorar com todas essas mães que têm vergonha de pedir ajuda. Dessas que se encolhem no canto do sofá pedindo para que tudo tenha sido uma mentira e que esse pesadelo acabe logo. Quero estar com as mães que guardam e convivem com esse sentimento diariamente. Isso tudo porque eu sinto que preciso e quero esse acolhimento e que essas precisam de conforto, entendimento, amor e carinho. Já que respostas nem sempre conseguem ser dadas.
Seja bem-vinda a coluna Entre Estrelas, que guarda um amor maior para todas as estrelinhas que não puderam crescer, não puderam ser seguradas, mas que para sempre serão amadas.