Mulheres-mães protagonistas da própria história

Gravidez Ectópica, muito mais que um aborto espontâneo

Gravidez Ectópica, muito mais que um aborto espontâneo

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Por Ana Paula Maciel Ribeiro – @anaapmaciel e @doladodecadomundo

Faz alguns meses que venho me recuperando de uma perda que mãe/mulher nenhuma desse mundo merece sofrer. A perda de um bebê. 

Por uma semana meu olhar focava em qualquer coisa, enquanto minha cabeça girava e se perguntava por que eu? O que eu fiz de errado? Como pode uma dor ser tão grande. 

Por dias eu não queria falar, eu não queria comer, eu não queria olhar para o meu celular. Eu só queria dormir, esquecer a dor que eu sentia no meu corpo, esse medo que me calava e essa culpa de fracasso que não passava. Sim, eu tive muito mais que eu aborto eu tive uma gravide ectópica. 

Gravidez ectópica é muito mais que um simple aborto espontâneo, perder o bebê. É quando o feto ou óvulo fertilizado não chega até o útero, e fica em diferentes partes do corpo, normalmente preso nas trompas e ali ele/ela vai crescendo. 

Não existe a possibilidade de salvar o feto e o risco de vida para a mãe é incrivelmente alto, pois a trompa pode explodir e causar sangramento interno severo. Em muitos casos a trompa é removida junto com o feto. 

Aparentemente não há um motivo exato que explique as razões para isso acontecer. Ela pode estar conectada com uma doença sexualmente transmissível, infecções ou doenças inflamatórias ou como no meu caso falta de sorte (como a própria médica que me deu o diagnóstico falou). 

Foram 4 dias antes das dores fortes começarem, do sangramento aparecer e do medo tomar conta de mim. A corrida para o pronto socorro me fazia pensar que era apenas uma infeção na bexiga, mas depois de um dia inteiro na emergência do hospital, veio o diagnóstico de que sim era uma grávida ectópica e naquele exato momento meu mundo desabou, meus planos desapareceram e eu só sabia chorar e chorar.

Foram dias de muito choro. Decidi tomar um medicamento que podia ou não funcionar. De compreender os riscos da ruptura das minhas trompas. De entender que esse bebê crescendo dentro de mim poderia afetar minha saúde, mas que mesmo assim eu o amava tanto quanto eu amo minha filha de 2 anos. E que perder ele era perder uma parte mim. 

Por mais de uma semana eu tive que explicar a minha mãe e alguns amigos que não foi um aborto comum. Que isso afeta 1 em 100 mulheres. Que dói no corpo e no coração e que nunca mais vai sair da minha memória. Eu não queria falar, mas eu precisava explicar. E explicar me fazia chorar.

Hoje eu vivo um dia de cada vez, sem jamais esquecer o que aconteceu. Mas sigo adiante pensando que esse anjinho não era forte o suficiente para sobreviver nesse mundo. Que ele/ela voltou para junto de Deus no mundo dos anjos para se preparar um pouco mais e voltar para mim um dia. Me convenci que talvez eu não estivesse preparada para o bebê número 2. E que infelizmente não era para ser. 

Pode parecer frio, quem sabe forte, muitos dirão maduro ou quem sabe sensato o que eu falo. Mas foram noites em claro, choros intermináveis e pensamentos sem fim que juntaram os meus pedaços e me reconstruíram para seguir em frente sendo a mãe da Louise, a esposa do Tyler, a mulher Ana e a filha Paula que precisa seguir adiante para que no futuro esse feijãozinho que se foi possa um dia voltar e encontrar um caminho mais fácil para chegar e crescer dentro do meu útero, junto do meu coração e fazer parte da minha vida e da minha família para sempre. 

Em memória do “feijãozinho”

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