Coluna | A culpa materna

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Um dos sentimentos mais comuns e dolorosos no maternar é a culpa que uma mãe carrega, até mesmo por questões que fogem do seu controle.

Na era digital, a comparação, os julgamentos e a competitividade enrustida em discursos hostis intensificam os sintomas.

Falas sobre parto normal versus cesárea, amamentar ou dar fórmula ao bebê, a criança ser criada pela mãe enquanto o pai trabalha para sustentar a família ou a mãe trabalhar fora para poder suprir as necessidades básicas do filho…

“Não tenha filho se não tiver condições financeiras para tal.”

Casa própria, carro, ter condições de dar o melhor para o filho… não é a realidade de uma grande parcela de mães.

Concordo que é imprescindível se programar para receber uma vida adequadamente.

Mas não foi o que aconteceu comigo.

Estava com um mês de gestação quando fui mandada embora do emprego, sem carteira assinada. Foi uma das piores fases da minha vida.

Eu não tinha casa própria — hoje ainda moro de aluguel. Não tenho carro e, na época, também não tinha. Aconteceu.

A maior culpa que carrego é a de não ter tido condições de oferecer o conforto que ela merece. O registro de despedida da barriga foi dentro do hospital, e não pude fazer o chá de bebê. Mas o amor nunca faltou.

O maternar é solitário, por vezes pesado, e nenhuma mãe deveria carregar a culpa por situações que fugiram do controle.

Existem mães que sonharam com a maternidade, outras que decidiram gestar mesmo não desejando ser mãe, e há aquelas que tinham o desejo, mas conceberam no momento inoportuno.

Não se culpe por não ter tido condições de preparar tudo cem por cento para a chegada do seu filho.

Tempo de qualidade, atenção e amor são mais importantes do que mimos materiais.

Você não é menos mãe por não ter conseguido parto normal, amamentar ou ficar integralmente com seu filho.

As realidades são diferentes. É cruel e injusto se comparar com realidades que, muitas vezes, somam privilégios.

Aceite o que passou, acolha-se e reconheça a mãe incrível que você é!

Tenho certeza de que você é o colo mais aconchegante, o porto seguro, a segurança e a paz que seu filho procura quando o caos do mundo causa dor.

Eu decidi abraçar a minha história — mesmo não sendo linda, mesmo sem ter vivido o que gostaria.

Ressignificar é um processo doloroso e, ainda assim, é a cura.

Mães, vocês merecem todo o reconhecimento, cuidado e amor que oferecem ao mundo.

Seja mais gentil consigo mesma. A maternidade, por vezes, já é pesada e solitária o bastante.

Autor

  • Daisy Scartezini

    Sou Daisy Scartezini, iniciei minha carreira na escrita como redatora de projetos de inovação na Fermento Inovação, mãe da Zayla Eva, de 2 anos e 10 meses, esposa e agora voluntária da Revista Mães que Escrevem. Meu amor pela escrita surgiu logo após a alfabetização. Costumo dizer que amo desenhar as palavras, elas transcrevem o meu ser.

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