Se eu te perguntasse de que maneira você se vê hoje, o que responderia? Como está sua autoestima? Você se orgulha de quem é? A percepção de quem somos, nossa autoconfiança, o quanto nos achamos bons ou não em algo e se correspondemos ou não ao que esperam de nós… toda essa construção tem início na infância.
É nos primeiros anos de vida, e com base nas relações com o mundo e com as pessoas que nossa identidade se forma. Ela é feita de representações criadas e compartilhadas socialmente, por isso é construída e marcada pelo olhar do outro.
Desde muito cedo nos é ensinado, de forma explícita ou não, o que é ou não apropriado, o que é ou não aceito, o que é ou não esperado e quais são os padrões valorizados pela nossa cultura em relação à aparência, gênero e capacidades intelectuais. Quanto mais distante alguém se sente do esperado, mais forte é a sensação de negatividade que ela experiencia.
Quantas de nós, presas aos padrões sociais, já não buscamos nos ajustar em algo que não nos cabia? Quem nunca se rendeu aos apelos estéticos e comportamentais impostos socialmente, que atire a primeira pedra!
Mas, e quando pensamos nas crianças, que estão em pleno processo da construção de suas identidades? Se a identidade é a base psíquica e comportamental de toda uma vida e determina nossas respostas às situações, como podemos contribuir para que ela seja construída de forma saudável desde a infância?
Um primeiro grande ponto é perceber que os padrões estão nos livros, nos programas de tv, nas mídias sociais e até nos brinquedos! É importante então, pensar em quais referências temos oferecido às crianças. Quais padrões lhes temos repassado?
Para alargar esses padrões, é importante valorizar a diversidade, ensinar as crianças a não fazer juízo de valor sobre as escolhas dos outros, apresentar diferentes configurações de família, oferecer brinquedos que representem a diversidade humana, contar histórias com protagonistas negros, com deficiência, transtorno, LGBTQIA+, além de sempre, sempre estudar!
No livro: “Para educar crianças feministas”, Chimamanda Adichie apresenta algumas sugestões e, de todas, escolho a 15ª para este artigo: “Ensine-lhe sobre a diferença. Torne a diferença algo comum. Torne a diferença normal. Ensine-a a não atribuir valor à diferença. E isso não para ser justa ou boazinha, mas simplesmente para ser humana e prática. Porque a diferença é a realidade de nosso mundo. E, ao ensinar-lhe sobre a diferença, você a prepara para sobreviver num mundo diversificado.”
A identidade se forma quando a pessoa se orgulha de ser quem é. Nós, enquanto adultos, somos peça central para contribuir positivamente com essa construção na vida das crianças. Vamos em frente!
Adichie, Chimamanda Ngozi. Para educar crianças feministas: um manifesto. Tradução Denise Bottmann, 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
Texto revisado por Vanessa Menegueci.