A infância acontece em uma espaço de tempo paralelo ao que conhecemos socialmente e adotamos como padrão. Para este tempo, temos acrescido acelerações em pequenas doses ao longo do tempo. Já teve a sensação que os dias, meses e anos estão passando cada vez mais rápidos? Não estamos conseguindo acompanhar a velocidade que nós mesmos definindo como padrão. Esse é o tempo em que vivemos, é o tempo que conhecemos. Se alguém vive um processo de tempo diferente, o definimos como apressado. Nós definimos um padrão e estamos coletivamente o acelerando.
Porém, a infância existe em um outro padrão de tempo. A linearidade deste tempo é pouco percebida pelos adultos. Mas ela existe. Crianças vivem o agora, sem a percepção do espaço de tempo. Se entregam ao momento. Não compreendem o depois, ou o antes como você e eu. Elas não pertencem ao nosso tempo, vivem em um tempo próprio. Essa compreensão do tempo vem da construção do ser, da percepção do mundo e do aprendizado dos padrões sociais.
O tempo é relativo. Você já deve ter ouvido isto. A sua relatividade tem a ver com a intensidade dos acontecimentos dentro dele. Enquanto a sua criança leva 1 hora tentando vestir a blusa sozinha – atividade que para você dura apenas alguns segundos – no tempo dela, este é o agora e só o agora importa. Você tem consciência da importância das coisas e investe o seu tempo conforme está relevância. Para ela, o vestir-se é um processo de aprendizado, de consciência corporal e compreensão da adequação social ocorrendo em uma experiência temporal diferente da nossa.
O tempo da criança é diferente do tempo adulto. Interferir demasiadamente neste tempo é não respeitar os limites da infância. É trazer a criança para um tempo a qual ela não reconhece.
Quanto menor a criança menor a percepção do espaço que existe no tempo. Para exemplificar, quando alguém se ausenta, a criança não compreende que retornará em minutos ou que ficará dias fora, ela só irá viver o agora. Esta percepção vai sendo criada ao longo da infância, por uma transição lenta que passa antes pela construção do indivíduo social.
Sim! O tempo é relativo. Para mim e, bem provável, que para você também, durante nossas infâncias os dias eram longos. Assim, com um tempo com menos velocidade do que o nosso, nossas crianças vivem. E muitas vezes, as tiramos abruptamente deste tempo e as trazemos para este nosso. Interrompemos seus processos, solicitamos mais rapidez, somos inflexíveis nos padrões.
O que quero, não é dizer que você deve viver neste tempo infantil. Mas quero que olhe sua criança sobre esta perspectiva. Quero que você seja mais compreensivo com o tempo dela. Quero que você tenha consciência que o tempo dela é diferente do seu. Quero que você respeite o seu agora e os seus processos. Mas acima de tudo, quero que você seja gentil com ela em seu tempo.
Autora: Thaís uma pessoa controladora que viveu a vida tentando se equilibrar entre seus desejos e pensamentos fora do padrão e a racionalidade excessiva e autocentrada. Ter o controle de tudo sempre foi o ponto central da sua existência até se tornar mãe da Mariáh. Morando em BH e sendo enfermeira, ela enxergou através de um outro ser humano a possibilidade de se reconstruir como indivíduo. Instagram: @ojeitodamae.