Pense numa situação estressante. Bom, para mim quase tudo é estresse hoje em dia.
Moro na roça há três anos — fruto da necessidade de sumir da cidade grande pós-pandemia. Então, ir para a cidade já ativa aquela boa e velha sensação de angústia no peito. Mas, pelos filhos, a gente faz (quase) tudo. Lá vamos nós para Sampa (São Paulo, tá gente!).
Calor de 35 graus. Nós — eu e minha filha — na estação do metrô rumo à Av. Paulista. Sobe, desce, espera, anda… até que, enfim, chegamos ao nosso destino: o cursinho pré-vestibular.
Avalio atentamente tudo o que posso ao redor, dentro do meu campo de visão. Afinal, minha caçula vai estudar naquele “antro”. A primeira impressão que tenho é estranhamente positiva. Parece que estou entrando no centro acadêmico de uma universidade: mesas, pallets e grandes almofadões. Umas pichações aqui e outras ali… aquele ar de descuido que irrita pais e faz com que os jovens se sintam em casa.
Conversa vai, conversa vem, sinto que ela curte o local. No fim, me sinto também ansiosa pela experiência que se inicia. Lembro de quem eu era naquela idade e algo dentro de mim se agita: uma expectativa pela vida que começa a ganhar ares de adultez e maturidade. E, de repente, o vazio….
Sinto em mim um vazio imenso de pura transformação.
O ninho, antes recheado, se prepara para ser vazio.
As filhas saem e a jornada agora chega para ser apenas minha, sobre mim.
O que fazer com este momento?
Mas eu não estou só. Vejo uma postagem no Instagram — do G1, creio eu — informando que os resultados do SISU movimentam milhares de lares a essa adaptação, seja porque o filho passou ou não nos vestibulares que os levam para longe de nós. Outras cidades, outras casas e outros desafios.
Olho para a Avenida Paulista.
O movimento me diz que a vida está acontecendo, aqui, agora.
Todo mundo parece estar indo para algum lugar.
Eu estou parada, na faixa de segurança.
Minha filha segura minha mão.
Ao mesmo tempo, segundos atrás, acabou de soltá-la, em direção ao redemoinho da vida…
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Autora: Nanci Trevisan / @nanci.trevisan