Ontem uma amiga veio me falar sobre a ideia de colocar o seu filho em uma escolinha em tempo integral…
Ela e o marido trabalham o dia todo e estava cada vez mais difícil depender de outras pessoas, para garantir que a criança tenha o cuidado que merece, quando os pais não estão por perto.
Sabemos que ela é apenas mais uma voz e representa tantas outras mulheres que se sentem “encurraladas” nesta realidade louca que inventaram pra gente!
Ela engrossa o coro cada vez mais forte, daquelas que se doam por completo para conciliar papéis que são na verdade, impossíveis para um ser humano “comum”!
Mas não conseguimos nos dar ao “luxo” de sermos “comuns”! A sociedade não alivia, os julgamentos não perdoam, o relógio não dá um tempo nos ponteiros para que possamos respirar… Seguimos, ainda que ofegantes!
Aí vem um infeliz que se depara com sua exaustão e enche a boca para dizer: “antigamente as mulheres tinham 10 filhos e estava tudo bem”…
O sangue ferve, eu sei! Quem nunca ouviu isso?
As gerações anteriores a nossa, foram criadas e educadas para serem mães e esposas, e com certeza desempenhavam este papel como ninguém.
É provável que ninguém estivesse muito interessado em suas vontades e sonhos, elas nasceram para ocupar este lugar e não “cabiam” maiores explicações ali.
Normalmente o sustento da casa não dependia dessas mulheres, as famílias eram maiores, os mais velhos cuidavam dos mais novos, brincavam na rua livremente e voltavam antes de escurecer.
Não se falava sobre “tempo de qualidade” com os filhos, para a mãe que quase sempre estava sobrecarregada com os afazeres domésticos e a casa, manter as crianças alimentadas, limpas e saudáveis, já era com certeza uma vitória enorme.
Nada se ouvia sobre apego, traumas, reforço positivo e afins.
É provável que grande parte dessas mulheres não eram de fato felizes, mas a felicidade se torna relativa quando não conhecemos outra realidade. Assim iam vivendo.
Hoje nascemos e somos criadas para estudarmos, trabalharmos, sermos financeiramente e emocionalmente independentes.
Precisamos nos atualizar constantemente sobre as diversas maneiras de “educar” nossos filhos, até encontrar uma que faça sentido, cuidar da aparência, da casa, da vida profissional…
É indispensável que consigamos garantir tempo de qualidade com as crianças e obviamente dedicar algumas horas ao “casal”.
Somos nós ás responsáveis por comprar roupas novas, controlar o tempo de tela, filtrar os programas de tv permitidos e garantir que se alimentem de forma balanceada.
Dever de casa, consultas médicas, “banho assistido” e resolução de conflitos, também costumam fazer parte da nossa rotina.
Tudo isso apenas para dizer que o mundo não está pronto para as mulheres que aqui habitam.
O mercado ainda não conseguiu entender o óbvio, ter tranquilidade para trabalhar aumenta e muito a produtividade de qualquer profissional e é positivo para todas as partes!
Uma mulher feliz e realizada, opera verdadeiros milagres por onde passa.
Poucos pais aprenderam a desempenhar de fato esse papel, muitos ainda se contentam com a função de coadjuvante na criação dos filhos ou ajudante da mãe, infelizmente.
Poucos maridos entenderam e assimilaram o cenário atual. Na maioria das vezes cabe às mulheres abrir mão dos sonhos e conquistas para se sentir “mais mãe”, ou abrir mão de se sentir “mais mãe” para correr atrás daquilo que sonha, mesmo que carregando o peso da culpa nas costas.
O mundo ainda não está pronto para a grandeza das “novas mulheres”, cabe à nós não permitir que nossos desejos e ambições sejam esquecidos!
Que nossa voz seja silenciada, que nossos sonhos sejam eternamente adiados.
Às gerações anteriores, obrigada por terem de alguma forma iniciado essa luta!
Às que aqui estão, fiquem firmes e não soltem as mãos! Àquelas que ainda são pequenas demais para entender, façam valer à pena!
Autora: Melina Maciel – @melina_maciel_