“As pessoas escrevem porque ninguém ouve.” (desconheço a autoria)
Fiquei pensando sobre isso. Mães escrevem porque ninguém as ouve. Porque ninguém as ouvia até então – até existir uma revista, um concurso, um espaço que recebesse, e publicasse, os seus escritos.
Porque antes de serem mães, são mulheres. E mulheres, como a gente bem sabe, foram silenciadas durante muito tempo. Eita combo perfeito problemático: mulher-mãe.
Sinta as dores de ser mulher, multiplique por dois sendo mãe.
Dói parir, dói o corte da cesárea, dói a espera na lista de espera da adoção. Dói de todo jeito, e não tem jeito – redundante assim mesmo. Mas pra não dizer que não falei das flores… Tem alegrias que só a gente tem.
Imagina ser amada até quando você tá descabelada? Ser a “melhor mãe do mundo” no pequeno universo daquele pingo de gente?
Ah, e o poder? E o poder que a gente sente sendo somente a gente? Capaz de enfrentar leões na selva de pedras…
Mas eu sei que essa força toda esbarra na fragilidade do medo de perder ou ver sofrer a sua criança. Porque a gente é “forte como uma mãe”, mas o nosso ponto fraco é justamente nossas filhas e filhos (frutos da nossa maternidade)
Então a gente escreve, lê, tenta (se) entender; encontra na outra nossa própria imagem e semelhança, e isso é reconfortante no meio de tanto desconforto que a maternidade revela. E são muitos chás de revelação ao longo dessa trajetória: saltos de desenvolvimento, terríveis dois anos, primeira infância, adolescência infantil, pré-adolescência, adolescência pra valer…
É aquela coisa, né? Da maternidade ser que nem um jogo de videogame: vencemos uma fase que achávamos difícil, e vem a seguinte pra mostrar que tem mais dificuldade pela frente (quando acaba pelo amor de Deus? Ou pelo amor da deusa?)
E como não escrever diante de tudo isso? Principalmente se for a escrita das suas experiências de vida, suas vivências, transformando-as assim em “escrevivências”. Num processo até terapêutico, de colocar para fora aquilo que por muitas vezes te corrói por dentro – e se corroer o mundo, que seja. Ele, o mundo, esse sujeito masculino, precisa saber o que passa com o sagrado feminino.
A mãe que disser que não escreve tá mentindo. Escreve mensagens no WhatsApp, escreve bilhetes na agenda da escola, escreve comentários nas postagens que se identifica; escreve com gestos, olhares, lágrimas e maquiagem; escreve mesmo quando silencia; escreve quando grita, quando sussurra, quando murmura… escreve sorrindo, escreve acariciando um filho ou filha
Ah! E escreve nas etiquetas escolares, mesmo se encomenda para terceiros, afinal, ela escreve nome, série e turno, quando tá solicitando o serviço.
Seria exagero escrever aqui que todas as mães escrevem a partir do momento que se tornam mães? Não sei. Mas arrisco escrever que sim – essa mãe que escreve que habita em mim.
As mães escrevem porque ninguém as ouve (minha co-autoria). Mas que escrever não seja mais uma obrigação, uma determinação, um “tem que ter” da maternidade que mais atrapalha do que ajuda. Agora, por exemplo, termino esse texto aqui, ainda que ele não tenha o mínimo de 500 palavras exigidas pelo concurso, sinto que já escrevi tudo que poderia escrever, pelo menos por enquanto, sobre mães que escrevem.
Eita! Já se foram mais de 500 palavras.
Por Isabella Morais Vasconcelos – @isabellamoraisvasconcelos
Revisão: Gisele Sertão.