Mulheres-mães protagonistas da própria história

Após o parto, eu também parto?

Após o parto, eu também parto?

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O momento do parto costuma ser um disparador de ansiedade para a maioria das mulheres. Seja uma gravidez de risco habitual, de alto risco, de menina, menino, do primeiro ou do segundo filho, o parto sem sombra de dúvidas é uma experiência extremamente mobilizadora e que é questão para mulheres desde o dia da descoberta da gestação.

Em um estudo realizado com gestantes de fetos cardiopatas (que têm risco de morte ao nascer), as mulheres relatam que seu maior medo era o parto, colocando em segundo plano todos os desafios e riscos que o seu bebê demandaria após o nascimento.

Mas o que é que está por trás dessa inquietação perante o parir?

A palavra parto tem o mesmo radical de partir – part. Partir, por sua vez, pode ter dois significados: 1- o de rasgar-se, dividir-se, separar-se ou 2- partir no sentido de se despedir, ir embora.

Para além da via de nascimento possível, “escolhida”: afinal, no parto, a mulher se separa/se divide ou parte para uma experiência nunca experimentada? Os dois.

No primeiro sentido a mulher se separa de quem esteve unida por 40-41 semanas pelo cordão umbilical. Aqueles que um dia foram interligados e eram extensão um do outro, agora se partem em dois: após o parto, o bebê precisa chorar pra comunicar que quer alimento, colo e trocar a fralda. Outrora, dentro da barriga, suas necessidades eram automaticamente atendidas pelo próprio pulsar do sangue materno. Agora não, ele precisa sinalizar seu desamparo. Esta experiência por si só já é muita coisa.

No segundo sentido, a mulher-mãe se despede da mulher que fora antes da gravidez, do seu corpo, da sua percepção do mundo e de si. Ela parte.

O parto se apresenta como um portal em que separa e inicia uma nova forma de ver a vida. E nessa nova vivência, alguns lutos simbólicos circundam esse novo olhar: a mulher, que antes era apenas filha, agora alcança o lugar de mãe.

O bebê real se mostra e pode ser bem diferente do que foi idealizado. O corpo de antes já não é mais o mesmo. A relação conjugal e o seu erotismo também, não.
A vida social abre espaço para a vida familiar e às vezes a profissional deixa de fazer sentido, ou ganha um novo sentido.

O fato é: do parto, a mulher se parte para partir pro desconhecido, pro novo e pro imprevisível.
O medo que as mulheres sentem desse momento não fica restrito apenas ao acontecimento em si mas também ao que parte no parto. As mudanças são muitas e elas se restringem ao corpo físico. As transformações sociais e psíquicas se evidenciam.

Parto, no sentido figurado, significa: “esforço desmedido, o resultado desse esforço”. E independente da via de nascimento exige coragem para encontrar-se, partir-se, mudar-se e transformar.
Um olhar sensível para esse momento, e seus desdobramentos e repercussões na recém-mãe, se torna fundamental.

Ademais, no parto, (eu) também parto? Sim, mas junto com isso, abre-se a oportunidade de viver e repartir uma nova história.


Autora: Sou Juliana Bogéa, mãe da Lua de 1 ano. Sou psicóloga perinatal e parental. Atuo com gestantes, puérperas e suas famílias bem como bebês ate dois anos de idade. Vivo a máxima: “é preciso cuidar de quem cuida”. Instagram: @julianabogeapsi.


Texto revisado por Luiza Gandini.

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