Muito se fala nos desafios da maternidade e os impactos na vida da mulher depois que um bebê nasce, como a privação de sono, perda de identidade, sonhos e planos que são adiados, além de palpites desnecessários, rotinas “mágicas” e um manual passo a passo para cuidar de um novo integrante da família.
Dentre outras pautas emergenciais dentro da concepção de maternidade no núcleo amoroso da mãe solo, após o término ou abandono do parceiro, pouco se fala numa realidade muito comum entre as mulheres que são mães e solteiras: está cada vez mais difícil de se ter um relacionamento amoroso com homens héteros.
A sociedade rotula a mãe solo como uma coitada, uma rejeitada, carente afetivamente e, por vezes, até emocionalmente.
Em sua grande maioria, essas mulheres que residem na maternidade solo, trabalham, estudam, dão tudo de si a todo instante e quando se sentem prontas, buscam um parceiro para namorar, se relacionar sexualmente, ter um pouco da ‘normalidade’, intimidade, ou até mesmo um chamego e diversão em meio a diversas demandas cuidando de uma criança. Que mal tem isso, afinal?
Infelizmente, para muitos homens, a mãe solo é uma mulher excessivamente carente, buscando um pai para seu filho, alguém para ‘pagar a pensão’, muitas vezes esse machismo vem de homens que não fazem metade do trabalho duro delas.
Aliado a isso, ainda se tem a ideia disseminada entre os homens que nós, mães solos, somos mais fáceis e acessíveis, como se a conquista já estivesse entregue, embora, muitas vezes, a mulher não se atenha apenas ao desejo de sua carne, mas também tem o autocuidado de se proteger de predadores, os deixam longe de suas crianças e mantêm a ideia de conhecer alguém de ‘verdade’ antes de inserir em sua vida, no convívio com a criança, tentando ao máximo se privar de perigos, que infelizmente, são inúmeros.
Desde muito pequenas, a sociedade rotula e molda mulheres para serem fracas, dependentes e subservientes. Mesmo que essas mulheres ganhem o próprio dinheiro, façam o próprio ‘corre’, os homens com mentalidades fracas e criptografadas com a ideia da sociedade patriarcal que não aceita mulheres que saem da curva do abandono afetivo, da carência, se sentem intimidados com essas mulheres, incapazes de domá-las com tão pouco, quando elas já são e fazem o muito.
O romantismo realmente parece estar em falta, homens rodados exigindo mulheres zero km, sem filhos, sem pessoas para cuidar, sem empregos que demandem muito tempo delas, sem manchas, sem flacidez, um corpo perfeito e esculpido, para homens que sequer contemplam uma das exigências mais básicas do ser humano como a funcionalidade.
E, cada vez mais, as mulheres vão decididas a não embarcarem em ciladas transvestidas de ‘romances’, tendo consciência de sua própria potencialidade. Todas as mulheres, em algum momento da vida, já ouviram que o mercado de homens está escasso, mas será mesmo? Ou a demanda exigida minimamente pelas mulheres está se tornando um desafio anti babacas? Pois as mulheres, a cada dia, têm consciência de que merecem mais.
Está cada vez mais difícil embarcar em romances heteronormativos em uma sociedade que faz o homem comum sentir-se como um semideus diante de uma mulher que por si só, carrega várias identidades dentro de si, da resiliência, da força, dos sonhos, das realizações, de equilibrar as demandas dentro e fora de casa com os cuidados de outro ser vivo.
E não estou romantizando sobrecarga materna, claro, mas as mulheres que já fazem muito todos os dias, não se contentam mais com tão pouco e isso tem mudado a cada dia. As mulheres atualmente não almejam um pai para os seus filhos, às vezes é só uma companhia levemente romântica, com um bom papo, um sexo interessante ou até mesmo uma cerveja barata num boteco de qualidade duvidosa com alguém que vale a pena conhecer.
Mas até isso está complicado atualmente. Cada vez mais a saga da mulher moderna e independente tem sido pauta para pesquisas, estudos, redes de apoio, um importante caminho no maternar feminino.
Quando aprendemos a nos amar e nos valorizar enquanto ser humano, enquanto mulher, não é um mero semideus que vai diminuir nossa deusa interior para caber no mundinho pequeno dele.
A escritora e filósofa francesa Simone Beauvoir pontua algo que até hoje se mantém dentro dos parâmetros da atemporalidade: “O machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semideus diante de uma mulher”. Embora, a cada dia, isso venha mudando em função da luta feminista que ecoa feroz na sociedade que tenta nos calar, as mulheres vêm descobrindo seu valor, amor-próprio e caminhos para trilhar. Mulheres donas de si, não se contentam mais com homens medíocres
Bruna Torres – @autorabrunatorres
Revisão: Stefânia Acioli