Mulheres-mães protagonistas da própria história

A resistência da responsabilidade com outrém – Amamentação

A resistência da responsabilidade com outrém – Amamentação

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Apesar de querer me atirar pela janela, segui. Apesar de querer fugir, segui. Apesar de querer afogar o bebê no banho, segui. A primeira vez foi fácil. Houve vínculo, e apesar das dificuldades, seguimos. Ela estava quase largando o peito, surgiu a irmã, voltou, segui. Cansada, sozinha o dia inteiro, lidando com conflitos internos fortes, eu segui. Somos um caso de sucesso da amamentação prolongada e consecutiva.

Amamentei em tandem. Apesar das resistências externas. Apesar de todos, da falta de apoio, das estruturas que não ensinam mães a amamentar e que não dão força para a amamentação.

Apesar da ignorância alheia. Apesar das questões mal resolvidas de quem, ao meu redor, não pôde/não conseguiu amamentar, eu segui. Eu amamento em tandem, de forma prolongada, duas meninas. Eu brigo pela amamentação das minhas meninas com o mundo externo e comigo mesma. Eu coloco as necessidades delas acima das minhas.

O leite é o acalanto que minha fala muitas vezes não consegue dar. É o acalanto que eu não consigo dar. É a proteção para além da minha existência que posso deixar para minhas filhas. Leite não é amor líquido, é sacrifício do eu em prol da cria. É a resistência aos homens que sexualizam, aos moralistas, aos julgamentos, a um sistema que desencoraja a amamentação.

Há toda uma estrutura e falta de apoio sobre a amamentação. No hospital não dão indicações, muitas vezes dão leite materno. Uma amamentação que não acontece poucas vezes é sinal de alerta já que há toda uma indústria contra a mesma. Mas ela pode ser sinal de que, talvez, o bebê sofra de apraxia da fala (que por si só é algo alarmante), mas que muitas vezes vem casado com o TEA. Eu sigo amamentando.

Apago, muitas vezes, meu eu em prol das minhas filhas. O legado de proteção à doenças vai ficar depois da minha morte. Eu sigo, apesar de mim mesma. Muitas vezes é um fardo pesado por conta exclusivamente da falta de apoio, mas que inclui também em si um privilégio. Eu não estou na rua por amamentar. Eu posso não ter um emprego de 8 horas diárias.

Por mais que essa não seja realmente minha escolha (alguém quer contratar uma professora de história?) eu estou aqui: cedendo meus neurônios, minha visão em prol do leite. Porque sim, amamentar afeta o cérebro da mãe. Sim, amamentar muda nossa visão assim como a gravidez. Eu sigo, elas seguem. Eu faço o que posso, como posso.

Acima de mim, não deixa ainda assim, de ser um sacrifício do eu em prol delas. E elas sempre estarão acima de mim. Por elas eu brigo com o mundo e resisto. Porque, acima de tudo e até do amor, existe uma responsabilidade para com duas pessoas que estão em formação. É a responsabilidade e não o amor que me faz seguir nessa jornada, muitas vezes pesada, de resistência.

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