Coluna – A minha dor de infância e a transformação em uma infância saudável para o meu filho e a mundo!

Coluna – A minha dor de infância e a transformação em uma infância saudável para o meu filho e a mundo!

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Eu me arrependo de ser mãe? De forma nenhuma! Mas me sinto infinitamente esgotada por não ser a mãe, daquela maternidade que eu idealizei por toda a minha adolescência e vida!

De onde vem este esgotamento supremo? Das expectativas colocadas sobre a pessoa que é mulher, e que de alguma forma, precisou ser uma profissional, vulgo, “respeitada”, para ser inserida dentro do contexto social minimamente digno financeiramente.

Sabe aquele círculo estranho em que as expectativas dos outros, vulgo, familiares, amigos e conhecidos nos inserem? Aquelas “sugestões” que com o passar dos anos se enraízam no nosso interior e que nos consomem infinitamente dia-após-dia, desta forma, vamos com o passar dos anos nos exigindo situações, que não cabem para a nossa vida, para a nossa rotina, e para a sociedade atual. Até porque, a sociedade mudou, a educação mudou, as pessoas mudaram, os pais, os avós, mudaram, porque então de fato, precisamos e estamos correndo contra o tempo, para sermos aquele “modelo” da caixinha?

Na verdade, eu também não tenho essa resposta, tão profunda, que diria que nem a minha terapeuta conseguiria me ajudar neste momento, talvez, você que esteja lendo, tenha uma opinião formada sobre este assunto, mas as minhas pesquisas, a minha vivência enquanto educadora parental, e a minha experiência profissional me levam a crer, que no final das contas, vale mesmo, é a nossa paz de espírito de estar de acordo com os nossos princípios. 

Hoje, eu vejo, que não faz sentido eu estar a todo momento me esforçando para estar em casa às 17h, caso, eu esteja preocupada com todas as demandas que ficaram para trás, e que como empreendedora, eu NUNCA conseguiria delegar. A minha cabeça não desliga, e não porque eu sou workaholic, antes do diagnóstico inclusive, eu até me nomeava assim, além é claro, de me considerar “atrapalhada e desatenta” por que não conseguia organizar, quando, na verdade, tudo na minha cabeça já estava organizado, mas para as pessoas “normais”, as pessoas “típicas”, nunca fariam sentido. Administrar emocionalmente os meus anseios como mãe, empreendedora e humana é complexo. Priorizar o meu tratamento, para ter uma vida mais digna é difícil, é difícil conciliar, na verdade, mas… o Girassol (minha empresa), nasceu por conta do meu filho, Joca, nasceu de mim, que ainda sou uma mulher, uma pessoa. 

Com o advento da maternidade, tudo mudou, sabe? Até a minha perspectiva profissional enquanto educadora, a vida começou a ter um olhar diferente, o meu timbre para me direcionar com as crianças mudou, a forma de tocar em outra pessoa, a maneira como eu olho outro indivíduo. Fico imaginado a forma que eu quero que meu filho cresça e veja as coisas, e assim eu vou construindo uma nova pessoa, vou sendo e servindo a sociedade de uma forma nova. 

Caso alguém me pergunte, quem eu era há 7 anos atrás eu com certeza não me lembro. Minha memória nunca foi boa, mas minha amiga… agora? Está péssima. Mas com eu me sentia há 7 anos atrás? Eu com certeza me sentia sozinha no mundo, mesmo tendo um relacionamento longo (antes de casar), mesmo tendo familiares. 

As crises que ocorreram durante a minha infância, e que foram regadas a situações de renúncia paterna, abandono materno e outros infinitos momentos de ausências emocionais e físicas, me levaram a entender cedo demais o peso do que é se sentir sozinha. O peso de sentir-se afastada emocionalmente de todas as pessoas possíveis, mantendo uma distância segura, me protegendo para que NINGUÉM pudesse mais me machucar. Uma distância que me fazia olhar a todas as pessoas à minha volta e não permitir que alguém se aproximasse o suficiente. Uma distância que me protegia, me protegia de sentir dor. Ninguém iria mais me machucar. 

Hoje, após 30 anos, vejo o quanto foi difícil para a minha mãe no auge dos seus 16 anos administrar as próprias emoções para colaborar com a minha educação, o quando ela, minha avó e tantas outras pessoas não tinham recursos emocionais para criar aquela menininha branquinha de olhos verdes, rejeitada pela família paterna e que nada se parecia fisicamente com eles. A família materna negra, e a menininha “achada na lata do lixo”. Sim, esta foi uma das frases que já ouvi durante a minha vida em forma de “brincadeira”. 

Comecei a escrever este texto sem pretensão de contar a minha história, mas no final das contas não tem como correr muito, né? Nossas palavras são reflexos da nossa alma, da mesma forma que nossas ações. 

Meu filho me salvou! Me salvou da escuridão que estava dentro de mim, me ensinou a amar, obviamente, depois de quase me enlouquecer com aquele turbilhão de emoções, associado ao turbilhão de hormônios do puerpério. Sim, eu não vejo de outra forma, o Joaquim me ensinou o que é se sentir amada, mas… muito além do que isso, o nascimento dele, me permitiu olhar pra dentro e curar as dores, perdoar as pessoas e ir muito além de tudo que um dia eu sequer chegar a vislumbrar. Me ensinou que eu sou a pessoa mais importante da minha vida.

Uma mãe, que se tornou empresária, que multiplica saberes e que muda a vida de várias outras vidas, eu sou consciente disso, e tudo, graças ao nascimento do meu filho. 

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