A maternidade como sentido da vida

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A maternidade ocupa papel central na minha vida desde que me descobri grávida. Todas minhas outras atividades continuaram existindo, mas ficaram em segundo plano e, de alguma forma, se relacionaram com meu principal propósito: ser mãe.

Meu trabalho, por exemplo, além da importância que sempre teve, passou a ser principalmente o meio para prover minha filha. 

O equilíbrio da minha vida pessoal começou a ser também um dos pré-requisitos para que eu conseguisse exercer a maternidade de forma satisfatória. Uma a uma, todas minhas atividades e vontades passaram a estar ligadas à maternidade.

Apesar de saber que um filho não deve carregar o peso de ser o sentido da vida de sua mãe, na prática, acabei caindo nessa armadilha inconscientemente. Racionalmente, achava que não tinha problema, já que entendia não criar expectativas a serem cumpridas pela minha filha.

Pelo contrário, por mim, ela poderia trilhar o caminho que quisesse e continuaria contando com meu apoio e admiração. O importante para mim, eram os princípios e valores que eu me esforçava para transmitir, e que fariam dela uma pessoa de bem, independentemente do que ela escrevesse em seu futuro.

Ocorre que, apesar de priorizar a consolidação de valores e princípios na criação de minha filha, claramente falhei nessa missão. Ela tem posicionamentos, atitudes e falas que são completamente contrários a tudo o que sempre acreditei sobre ética, limites e empatia, sem demonstrar nenhum arrependimento. 

Além de todos os sentimentos envolvidos nessa conjuntura, ainda acrescento a sensação de fracasso por ter falhado na atividade que priorizei durante os últimos anos: ser uma mãe capaz de transmitir valores e princípios.

Após tanto tempo enxergando a maternidade como meu principal propósito, me pego desorientada. Existirá algo que possa me motivar tanto quanto ser mãe, que preencha tão completamente minha existência, mas que eu consiga fazer de forma minimamente competente (como não consegui fazer com a maternidade)? 

É possível conciliar felicidade, ou busca por ela, com a sensação de ter fracassado no que mais priorizei durante vários anos? Quem sou eu, além de mãe? O que me define, o que faz meus olhos brilharem? Será que meus olhos ainda são capazes de brilhar? Se fosse possível voltar no tempo, o que eu faria diferente?

A quantidade de perguntas sem respostas tende a infinito. Tento lembrar quem eu era antes da maternidade, mas a mulher que sou hoje não voltaria a ser a moça que já fui. Que o futuro aponte caminhos menos difíceis, já que não consigo buscá-los por minha conta.

Revisão: Vanessa – @elasoqueriaescrever

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