A chegada de João

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Este texto foi escrito há dois anos, algumas coisas mudaram, outras foram mais fortes. 

Abaixo, um relato da chegada dele que me mudou para sempre…

Eu deveria estar escrevendo minha tese, mas resolvi compartilhar um pouco de como a maternidade mudou a minha vida. Não digo isso de uma maneira romantizada, mas, de como ser mãe e ter um bebê que depende de você, por 24 horas, consome uma mulher.

Me chamo Juliana e hoje me resumo a ser mãe de João que possui apenas quatro meses de vida. Eu nunca quis ser mãe, na verdade, sempre tive medo de como esse título mudaria minha vida profissional, meus relacionamentos e minha integração com o mundo, pois bem, esse título ou esse estado, mudou por completo TUDO.

Eu comecei a querer ser mãe quando, em 2018, descobri uma endometriose e, logo, percebi que ser mãe não seria uma tarefa fácil.  Fiquei um ano sem menstruar devido ao medicamento para frear o avanço da endometriose. Até que, resolvemos tentar. Tentamos por dois anos e nada aconteceu. Em 2021, iniciei uma mudança alimentar que consistiu em uma dieta desinflamatória. Com seis meses de tratamento, eis que surge o meu João. 

A gravidez foi conturbada devido aos enjoos, descolamento e, por fim, o descobrimento, com dezessete semanas, de uma dilatação severa nos rins do meu bebê. A gravidez me trouxe a sensação de que precisava viver uma semana de cada vez, dado que o líquido amniótico poderia diminuir e o meu bebê não resistir. Fazia ultras quinzenais, procurei um especialista em medicina fetal para entender essa má formação nos rins de João que se tratava de uma dilatação bilateral. Achávamos que o João poderia possuir uma síndrome e isso justificaria essa dilatação. Fomos atrás dos especialistas, conectamos com Deus, universo, orixás e todas as religiões possíveis e imagináveis. Pedia muitas orações, senti-me abraçada e, muitas vezes, sozinha.  Assim, continuei vivendo semana a semana. Usamos corticoides para amadurecer o pulmão dele, tendo em vista um parto prematuro.

Enfim, João nasceu com 37 semanas, pesando 3kg 620. O segundo bebê maior da maternidade daquele dia. Ele nos trouxe alegria… No entanto, tínhamos outro problema: provavelmente, ele ficaria na UTI para entender o porquê dessa dilatação. Graças a Deus, João teve alta, mama, exclusivamente, no peito e cresce. Entretanto, a dilatação continua e aumentou. Seguimos com os exames e com a suspeita de Estenose de JUP bilateral e, possivelmente, João terá que operar. Como o texto foi escrito há dois anos, o João operou um lado, passou por uma infecção urinária e outras internações no caminho, mas está ai, firme e forte.

Aprendi a cuidar de João, não contei com rede de apoio, tive um puerpério difícil e me questionei se foi a melhor escolha que fiz na vida, dado que o João é parte de mim, não possuo mais autonomia, não mando nas minhas vontades, não possuo foco para terminar a tese e para fazer outras coisas banais.  Apesar disso, eu terminei a tese como muita noite virada no hospital e com o João mamando enquanto eu escrevia o trabalho. Defendi em agosto de 2023. 

Após esse breve relato, nem tão breve assim, quero deixar registrado o quanto a maternidade não é algo simples, o quanto precisamos desmistificar que nem todas as mulheres e homens são férteis, o quanto ter um filho é lindo, contudo, exaustivo. 

O João é o grande amor da minha vida, ele veio e me ensinou muitas coisas, principalmente, a viver um dia de cada vez. Ele me curou de complexos enormes de uma infância difícil e pobre, tendo em vista que fui criada por duas mulheres, sou filha de pai desconhecido e minha mãe tentou me entregar para adoção. João curou as feridas, mas me mostrou o quanto, por algum tempo, ele dependerá de mim e eu não serei aquela profissional brilhante que sempre sonhava em ser.

Para todas as mães que estão lendo, sintam-se abraçadas. Não estamos sozinhas, o puerpério é real e a vida é mais difícil, SIM, para nós mulheres. Por isso, sororidade!

Por Frida – @alvim.carvalho1

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