COLUNA | Maternar no Exterior – A riqueza escondida nos braços de quem ama

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Eu não me canso de pensar sobre as discrepâncias culturais que quem vive fora tem de enfrentar no dia a dia. Para mães de primeira viagem então é uma questão diferente pelo menos por dia. Ao mesmo tempo em que pode ser sim muito triste não ter ninguém de confiança fisicamente perto de nós, família, amigos e etc, é também muitíssimo rico viver sob a égide de opiniões e questões tão diferentes das quais estamos acostumadas tendo crescido como brasileira.

Aqui onde moro por exemplo não descobrimos o tipo sanguíneo do bebê sem que haja um motivo muito importante para tal. E para mim esse foi o fim da picada no começo da minha maternidade. Briguei com as médicas e enfermeiras do hospital onde pari, chorei, me descabelei e, óbvio que tudo foi em vão. Hoje, 2 anos depois, ainda não sei o tipo sanguíneo da minha filha.

Demorei muito para fazer as pazes comigo mesma no sentido de que estou dando uma maternidade e um estilo de vida muito diferentes do que eu mesma vivenciei à minha própria filha. Tive uma infância relativamente feliz e gostaria realmente que ela vivenciasse pequenos prazeres que, ao nos mudarmos para cá, foram praticamente arrancados dela.

A bala de coco em cima da mesa de aniversário, uma festa cheia de parentes e amor, dançar quadrilha em uma festa junina enorme, pular fogueira, o cheirinho de pão de queijo a cada esquina, o orvalho nas folhas e a nuvem que parecia dançar sobre o rio Tietê logo de manhã quando o dia prometia sol de rachar. Os domingos na casa da vovó…

Da mesma maneira com que perdemos tudo isso, ganhamos um mundo novo de possibilidades para o futuro. Meu bebê (não mais tão bebê assim) está crescendo em duas línguas, no meio de muitas nacionalidades diferentes e, por isso, acredito que mais aberta à novas culturas e bem menos preconceituosa com diferenças culturais que eu tive na infância por pura ignorância.

Sua melhor amiguinha na escola é romena e, por isso, aprende muitas palavras nessa língua que é, surpreendentemente muito parecida com o português. E me enche de orgulho vê-la “conversando” na rua com velhinhos, dentro do ônibus tentando acalmar um bebê que chora. Tenho certeza de que nada disso seria possível no Brasil morando em São Paulo dentro da realidade que tínhamos. Antes mesmo de vir para cá era muito mais fácil para mim pensar em tudo que estava deixando para trás. E depois da maternidade foi ainda mais fácil me questionar e culpar por tirar isso tudo dela.

Mas pouco a pouco entendo cada vez mais o quanto cada uma de nós, mães que não tem rede de apoio, que moram no exterior, que são mães solo, que atrasa sonhos pelos filhos, como cada uma dessas mães está dando o seu melhor para os rebentos e conseguindo proporcionar, mesmo em situações muito difíceis, tudo o que uma criança ou adolescente precisa.

Você mãe, pode ter certeza de verdade, de que nada falta para o seu filho. Você é o mundo todinho dele. Ter seu amor e seus braços sempre por perto basta.

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