Manifesto | O brasileiro é um povo resiliente até demais

Manifesto | O brasileiro é um povo resiliente até demais

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O brasileiro é um povo resiliente. Talvez resiliente demais.

Estamos com cerca de 60% da população com insegurança alimentar (falta de alimentos ou substituição de destes por mais baratos e menos nutritivos). A inflação, desemprego e afastamento dos estudantes das escolas (e, muitas vezes, da merenda também) fez com que as famílias sentissem, ainda mais, o impacto da comida no orçamento familiar.

Ainda assim, pagamos em média 22,5% em impostos nos alimentos. A tributação não leva em consideração a qualidade ou fatores nutricionais do produto: A carne é tributada em 29%; Seu substituto, cachorro quente, em apenas 15,28%; O peixe, em 34,48%; A sardinha em lata, entre 12 e 17%; O mel, em 31,22%; Já o açúcar, muito menos nutritivo, em 30,60%.

Desta forma, alimentos ultraprocessados, por serem mais baratos, tomam lugar dos in natura, aumentando riscos de obesidade, diabetes, subnutrição, anemia e tantas outras doenças que poderiam ser prevenidas com uma dieta mais nutritiva.

De toda forma, são raras as hortas e pomares comunitários em praças das cidades, que não consideram a possibilidade da população com maior risco nutricional cultivar e distribuir esses alimentos. Discute-se aumentar a validade de alimentos ou distribuir alimentos manipulados (ninguém sabe em quais condições), sem cogitarem alternativas de longo prazo.

Novamente, estamos à beira de um apagão energético. Botijões de gás custando R$ 100,00. Muitas famílias, sem condições de arcar com esse custo, voltam a utilizar fogões a lenha, que, além de risco de incêndio, produz fumaça e pode trazer enfermidades, como doença pulmonar obstrutiva crônica. Ainda assim, não são distribuídos ou subsidiados fogões a energia solar, ou fabricados em mutirões comunitários.

A conta de luz, em tarifa vermelha para quase todo o país, ocupa grande parte dos gastos familiares. Mas se discute uma privatização que, na prática, aumentaria custos para os consumidores. Raros são os programas que facilitam ou incentivam a produção de energia por painéis, para consumo próprio ou venda de energia.

Secas no sul e sudeste ameaçam a produção de energia. A escassez de chuvas no país é a pior em 91 anos em termos energéticos. Entretanto, não se discute de forma séria a ampliação de outras fontes de energia limpa, construção de cinturões verdes para, a exemplo da África, reduzir a desertificação.

Tais condições, somadas à uma condução desastrosa do Ministério do Meio Ambiente, possibilitou o aumento do desmatamento, dos garimpos ilegais e dos incêndios, inclusive por eufemismos legislativos e fiscalizatórios, bem como a punição destes eventos.

O desemprego está altíssimo. E a violência urbana também. Esta é a grande oportunidade de construir habitações populares nos locais atualmente ocupados irregularmente, trazendo serviços públicos para esses moradores, como melhoria de escolas e postos de saúde, asfaltamento e saneamento básico (cada real investido em saneamento promove economia de R$ 4,30 em custos de saúde). Com mais pessoas trabalhando na construção civil, o mercado, como um todo, se aquece e o dinheiro passa a circular por toda a região.

Os modos tradicionais do Brasil estão sendo dizimados, seja pelo avanço de garimpos em terras indígenas (inclusive com tentativas de homicídio) ou perseguição institucional aos líderes destes grupos, constantemente envolvidos em inquéritos policiais, sem qualquer sentido, em vez de buscarem meios de integração com os povos genuinamente brasileiros, com ampla discussão a fim de conduzir os intercâmbios de acordo com as necessidades destes.

Falta uma política inclusiva e pensada na população, sobretudo a mais vulnerável.
E já passou da hora de cobrarmos nossos eleitos para que façam políticas pensadas na população como um todo, e não de grupos privilegiados.

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