A primeira vez em que me senti um fracasso como mãe foi logo após o parto, quando soube que não conseguiria fazer a tão sonhada amamentação exclusiva. Após ler bastante sobre o assunto e superar a tempestade hormonal do puerpério, vi que não ter amamentado exclusivamente não me tornou uma mãe melhor nem pior. É com espanto que lembro como este fato me abalou tanto, naquela ocasião. Afinal, independente da amamentação, quanto mais o tempo passava, mais eu confirmava que eu e minha filha trilhávamos o melhor caminho possível.
Até que minha filha entrou numa depressão profunda e me vi impotente diante da situação. Independente do que os médicos e psicólogos digam, voltei a sentir aquela mesma sensação de que fracassei como mãe. Não importa tudo o que vivemos e construímos até o início inexplicável desta situação, nem o que fiz e faço na tentativa de revertê-la.
As tentativas frustradas só aumentam meu fracasso porque o mínimo que eu tinha que ter conseguido era manter minha filha saudável e feliz. Para que serve uma mãe, se não for para isso? Para que sirvo, se não tenho sucesso em garantir para minha filha o mínimo necessário: saúde e felicidade.
Para piorar, quando eu queria conseguir me esvaziar de sentimentos para focar exclusivamente nas necessidades de minha filha, me pego tropeçando nessa certeza de que fracassei. Como se fosse o momento adequado para eu me esforçar para lidar com o que passa dentro de mim. Como se a situação não exigisse que eu assumisse o papel de coadjuvante para me dedicar ao tratamento da única protagonista: minha filha.
Espero que algum dia essa sensação atual aparente ser tão boba e sem sentido quanto hoje me parece ter sido o fracasso que senti devido aos problemas na amamentação. Por enquanto, nada me tira da cabeça que eu tinha que ter conseguido evitar que minha filha ficasse assim. Sequer enxergo o que eu deveria ter feito, onde e quando comecei a falhar. Tal ignorância somente aumenta meu fracasso.
Este texto foi revisado por Fernanda Sousa.