Em 2019, falamos aqui neste mesmo espaço, sobre como tratar o tema do racismo com as crianças. Mas, infelizmente, atitudes racistas vêm crescendo no mundo, e seus episódios não param de acontecer.
Nós, negros, continuamos vítimas de constantes discriminações raciais, que inclusive incluem violência física, com muitos casos culminando em mortes, como nos da Marielle Franco e do norte-americano, George Floyd; sem esquecer, é claro, do adolescente, João Pedro, e de muitos outros que as estatísticas não mostram.
Pois é, atos racistas são difíceis de entender quando envolvem adulto, imagina quando esse ato gira em torno de uma criança ou adolescente. Há poucas semanas pudemos testemunhar alguns casos, que tiveram repercussão e nos causou muita indignação.
Infelizmente, a certeza da impunidade faz com que o movimento racista tenha mais adeptos. E o racismo, aquele que muitos diziam não existir e que não passava de mi-mi-mi, sempre existiu, porém estava velado, agora ele achou espaço para crescer, aparecer e fazer vítimas fatais na nossa sociedade.
Sendo assim, precisamos educar as nossas crianças para serem antirracistas, e não para saberem lidar com o racismo.
É importante dizer que essa sociedade racista não nasceu assim, ela foi transformada em uma sociedade racista, onde as crianças, ao nascerem, são ensinadas a ser preconceituosas, a ferir, a discriminar, a ofender e a humilhar. Logo, o correto é dizer que, da mesma forma que essa sociedade ensina o racismo, ela também pode ensinar a ser antirracista.
Mas como? Como mudar todo um pensamento social? Como mudar algo que é estrutural?
Na realidade, estamos tentando reverter algo que nem deveria existir, mas como existe, nós, como instituição, escola e como profissional da educação e família, precisamos dialogar com tais questões e não mais evitar tocar no assunto. Precisamos educar as nossas crianças para elas serem antirracistas desde pequenas.
Qual é o papel do adulto na educação antirracista?
O adulto responsável por educar uma criança deve ter atitudes antirracistas. Ele é o exemplo para essa criança e deve agir com respeito para com o outro, para que ela observe e possa agir da mesma forma.
O importante e primordial é estimular sempre o respeito mútuo. Eu repito: o ser humano não nasce racista, ele cresce em um ambiente racista e imita o comportamento das pessoas com as quais convive, tornando-se, assim, racista.
Uma boa iniciativa é dar a oportunidade para as crianças acessarem materiais que valorizem as diferentes etnias e que contribuam para a formação da humanidade.
Ou seja, da mesma forma que lemos a história da Branca de Neve, precisamos ler também sobre Dandara, valorizando sempre os pontos positivos dessa diversidade. Dando a essas crianças a oportunidade de verem com os próprios olhos a beleza nas duas histórias, sem que o adulto dite a elas o que é belo, ou o que tem mais valor.
Evitar falar sobre racismo com as nossas crianças pode gerar um preconceito com o assunto, minimizando a sua importância. Precisamos conversar com elas, mesmo que elas sejam bem pequenas, bastando adequar a linguagem para a faixa etária.
Atitudes como: elogiar a criança, valorizando as suas diferenças; não fazer piadas racistas; repensar a linguagem; mostrar para criança a verdadeira história do Brasil e, também, da África; respeitar as religiões de matizes africanas; não ignorar as notícias e perguntas, estimulando as contribuições e heranças da população negra; valorizar a cultura da periferia, apresentando a criança modelos que a represente; acompanhar, observar e conversar com ela; são de extrema importância para a promoção de uma educação antirracista.
Acompanhe essa série de textos. No próximo, falarei sobre a importância da representatividade.