Hoje cheguei no trabalho falando: “se uma mulher ainda não foi chamada de Bruxa, não fez seu trabalho direito”. Foi uma brincadeira, mas com seu tom irônico é verdade. Porque, afinal, sempre que nos comportamos fora das normas sociais somos taxadas de LOUCA, BRUXA OU PUTA. Que mulher nunca ouviu do companheiro, ex ou atual, para de ser Bruxa? Larga de vestir como bruxa? Está parecendo um bruxa?
O termo Bruxa está sempre ligado a algo ruim, mau, negativo, feio, perverso. Mas a história é um pouco diferente. E foi o movimento feminista que permitiu desvendar isso. Você sabia que mais 200 mil mulheres foram perseguidas e que metade dessas foram mortas na tal “caça às bruxas”?
Silvia Fredeci, uma autora traduzida na atualidade para o português, desvenda a caça às bruxas e localiza na transição para o capitalismo e a formação do proletariado moderno. Essa caçada foi inclusive apoiada por filósofos como: Hobbes, Galileu, Shakespeare, entre outros. A maioria das mulheres presas e condenadas eram camponesas pobres, mulheres mais velhas que viviam pelas ruas, atrás de comida e abrigo.
Entre as acusações estavam infanticídio e perversão sexual, confundidas com praticas contraceptivas e de controle do corpo feminino. As acusadas, mulheres pobres, velhas, entre outras, eram submetidas a torturas, estupro e sadismo sexual. Estavam incluídas aí as parteiras e obstetrizes, até hoje profissionais quase “párias” em uma sociedade medicalizada e que nada em piscinas de rivotril. Nessa mesma época, amizade entre mulheres era objeto de perseguição e tida a palavra gossip, que antes significava amiga, passa significar fofoca.
Em resumo, hoje é dia de celebrar, pois ainda somos caçadas, temos nossos corpos controlados, sentimos medo constante e durante anos acreditamos que não podíamos ser boas amigas umas das outras.
“Hoje ao redor da fogueira
Vou celebrar as mulheres
Aquelas ancestrais
Perseguidas, torturadas
Estupradas e mortas
Apenas por ser geniais.
Vou ao redor da fogueira
Fazer feitiço para os imortais
Quem sabe minha filha
Possa viver em um mundo de iguais.
Onde as mulheres não sintam medo
De andar na rua ou de parar nos sinais
Hoje ao redor da fogueira
Farei brincadeira
Com a vassoura e o caldeirão
Vou fazer uma poção
Que alegra o coração
Para aguentar os dias neste mundo cão.”