A narrativa emerge de uma mãe/pós-graduanda e professora que atua em uma escola do Rio de Janeiro. A escola sempre esteve presente em minha vida, desde os tempos de criança em São Gonçalo, bairro do Rio de Janeiro. Observava e me encantava com os meus professores e pela forma que eles atuavam em sala de aula, com amor e alegria me inspirando a seguir na carreira docente.
As aulas presentes na memória que guardo em um local especial, são de professoras que utilizavam o lúdico e diferentes recursos para juntas a nós, seus educandos, construir conhecimentos.
Estou uma jovem professora, apenas dez anos de sala de aula, refletindo sobre educação e a realidade das escolas vividas. Para apresentar-me como mãe/professora/pós-graduanda que narra, utilizo o termo que melhor traduz minha atuação o “estar professora”, que significa encontrar-se atuante em sala de aula, mas que se considera uma eterna educanda e aprendiz.
A reflexão sobre “estar professora” surge a partir da leitura da obra de Paulo Freire (1996), que apresenta um trecho sobre o afeto na educação, afirmando que a “prática docente não se separa da discente. Ambas possuem alegrias e acrescentam-se desafios também, deve-se ter em mente que a atuação deve estar movida pelo afeto em todas as relações que emergem dela”. Pensando no presente texto, a ideia do termo “estar” indica a relação horizontal do educador ao educando, contrapondo a vertical, da autoridade do educador, detentor do saber, aquele autoritário. O professor não deve acreditar que possui todos os saberes possíveis sobre o que está ensinando e lembrar que seus educandos possuem também saberes que devem ser valorizados. O “estar” também é reconhecer uma relação próxima, de afeto, que a partir da compreensão da realidade do educando, atua e colabora para sua formação.
O “estar professora”, para mim traduz também a ideia de que os “locais que me encontro” não são fixos. Ao passo de que se possuo título e atuo em um espaço, sob qualquer prática educativa, o título é provisório e mutável. Pode-se estar atuando como professora, mas ser estudante de pós-graduação por exemplo, o importante mesmo é ser um “aprendente” ao longo de toda a vida. “Ser aprendente”, isso sim é permanente, ao passo que sempre aprendo quando ensino e também que na vida docente, o estudo e a formação contínua e continuada devem ser constantes. Esse “estar” e não “ser”, surge no pensar minha atuação. Perceber-me educadora/educanda, como afirma Périssé (2004) embasado nos escritos da educação popular defendida por Paulo Freire, de que “durante o processo educativo, o educador e o educando constroem juntos o aprendizado, todos trabalham em prol de uma ação.” Ação essa que é o próprio ato educativo.
O “estar mãe” dentre todos os lugares nos quais me encontro, é integral, não posso me ausentar de tal local nem por um instante, pois a qualquer momento posso ser solicitada a estar lá, ser presença, seja qual for a hora, independente do lugar em que eu esteja. Esse lugar me retoma, me convida a “estar mãe”, certa de que esse espaço sempre e de uma forma maravilhosa, será meu. A partir dele tenho força para escrever o presente texto, estar professora/pós-graduanda/mãe sempre “aprendente”, estar na academia. Maravilhosamente não existe pessoa que possa substituir o “ser mãe”, “ser pai” de uma pessoa esteja ela presente ou em qualquer lugar do mundo.
O estar “pós graduanda/professora e mãe” é um local que exige dedicação em dobro, pois além de “estar mãe” em qualquer lugar e hora, “estou professora” que possui uma atuação docente emancipadora e me preocupo com uma formação continuada. E também estou educanda/pós-graduanda em uma universidade na qual encontros, seminários, escritas e aulas estão presentes na vida cotidiana. O importante é sempre ter a percepção de que estou uma pesquisadora que se encontra em diferentes locais e em todos eles minha postura de eterna aprendiz deve prevalecer.
Vale destacar que ao longo dessa jornada como mãe/professora e pós-graduanda experimentei cursar um mestrado em uma universidade pública e no meio dele vivi o período de pós-parto, no qual tive que entrar em licença maternidade, adiar participação em eventos, leitura de trabalhos, escrita, andamento da pesquisa, tendo em vista que os cuidados com um recém-nascido são intransferíveis. Entendendo que ser mãe requer estudo, paciência, alimentação, saúde mental e física, afinal uma vida depende de você. Independente do quanto se tenha estudado, preparado e esperado, alguns desafios cercam e questões urgentes relacionadas aos cuidados básicos surgem e fazem com que os projetos acadêmicos sejam adiados, pois muitas vezes as mães não possuem uma rede de apoio familiar que forneça um ambiente de cuidado à criança para o retorno da mãe à universidade e o avanço da pesquisa.
Após toda a licença e retorno à escrita acadêmica, o meu estar mãe/professora/pós-graduanda fortaleceu-se ainda mais, pois vivenciei desafios e dificuldades no próprio seguir na vida acadêmica e aprendendo a ser mãe. Também “estando mãe/pós-graduanda/professora” tenho que administrar tantas atividades e demandas, planejar e fazer tudo caminhar para que a escrita aconteça, a assiduidade nas aulas ocorra e a participação de encontros e eventos científicos seja possível e fortaleçam o meu pesquisar, lecionar e viver.
De todos os lugares que ocupo, o da mãe é o que eu mais amo, pois ele me impulsiona, fortalece e me faz “aprendente”. Esse local que não me ausento de ocupar me faz ter forças e sabedoria para estar em todos os outros e assim ser o que quiser.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
PÉRISSÉ, P.M. O educador aprendedor. São Paulo: Cortez, 2004.
Por Larissa Rangel Miranda Hassan – @larissa.rangel.04





