Coluna | Gestando um bebê arco-íris 

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Era um domingo normal igual ao outro. Mas ele iria se tornar uma memória especial. Há alguns dias, minha filha, Louise, havia começado a passar a mão na minha barriga e dizer que havia um bebê ali dentro. Ela nunca havia feito isso, e confesso que no começo fiquei um pouco chateada, por culpa de realmente querer que tivesse um bebê na minha barriga.  

Com a insistência de uma criança de 4 anos, fui olhar meu ciclo e minha menstruação não estava atrasada, então deixei para lá. Mas foi naquele domingo, depois de dois dias de atraso de um ciclo super regular, que eu pensei: “talvez, minha filha possa estar certa”.  

Preparei o almoço, mas antes de colocar na mesa, precisava fazer xixi, então aproveitei a oportunidade para fazer o teste. Diferente das outras vezes, eu fiz o teste e não esperei ansiosa pelo resultado. Deixei o exame lá, paradinho, e fui almoçar. Disse para mim mesma: “se for para ser, será”; mas sem expectativa.  

Almocei, lavei a louça e fui checar. Lá estavam bem marcados os dois risquinhos. Sorri, agradeci a Nossa Senhora Aparecida e guardei essa notícia para mim. Precisava digerir essa informação, e me manter calma para acomodar esse bebê e não contei nada a ninguém, nem mesmo ao meu marido.  

Essa foi a quarta vez que me vi com um teste positivo. E é impossível não lembrar que em dois deles também tive um luto profundo. Então, dessa vez, decidi focar na memória de como foi tudo pela primeira vez, quando descobri que estava grávida da Louise. Mandei as melhores energias que pude para que tudo fosse como teria que ser. Tentei não pensar muito, não planejar e não prever o futuro, achando equilíbrio e muitas vezes até mesmo esquecendo de que estava grávida.  

Demorei três dias para contar para o meu marido. E mais ou menos uns dois meses para contar para minha mãe. Aos poucos, a notícia foi se espalhando. Primeiro, para a família, depois, para amigos mais próximos e, agora, nesse texto. Apesar de querer gritar para todo mundo, dessa vez eu me contive, mas agora posso contar que estou esperando meu bebê arco-íris.  

Para quem não sabe, bebê arco-íris é o nome dado para um bebê que vem depois de uma ou várias perdas gestacionais. Eles têm esse nome por trazer a esperança e a alegria de volta a uma família. E não há melhor significado ou explicação. Pois meus medos, hoje, são muito menores do que a minha esperança e alegria.  

Hoje, aproveito essa gravidez a cada segundo. Me sinto cada dia mais feliz por estar gerando outra vida dentro de mim e trago comigo toda a calma e alegria que esse bebê precisa para se desenvolver e vir a esse mundo. E, cada vez mais, acredito que tudo acontece no seu tempo — e este, agora, é o tempo certo.

Autor

  • Ana Paula Maciel Ribeiro Ana Paula Maciel Ribeiro

    Ana Paula Maciel Ribeiro é mãe de três, da Louise e de duas estrelinhas, e também uma catarinense que reside na Austrália. Jornalista e desde sempre apaixonada pela escrita, é autora “Do lado de cá do mundo”, blog criado quando se mudou para a Austrália. A Maternidade despertou um amor ainda maior pela leitura e escrita. Depois de duas perdas gestacionais, Ana sente que tem como missão falar sobre essa dor tão solitária, sobre as inseguranças e luto dessas perdas e acalentar mães que, assim como ela, já passaram por esse momento tão difícil. Blog: Do lado de cá do mundo. Instagram: @anaapmaciel @doladodecadomundo

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