Junto com a maternidade, um novo desafio: ensinar aos meus filhos que as notas escolares não definem quem eles são. Como isso se, por anos, eu acreditei que aqueles números no boletim diziam algo sobre o meu valor? Como convencê-los de que um “A” ou um “C” não representa mais do que uma avaliação passageira?
A maternidade, dizem, nos transforma em especialistas na cura de feridas, sejam elas físicas ou invisíveis. Enquanto eu cuido de pés e joelhos arranhados, na tentativa de fazer com que os anos escolares dos meus filhos sejam mais leves – ou menos traumatizantes, adotei uma estratégia: para cada nota “dentro da média”, um “parabéns”, uma pequena celebração, porque a vida já tem desafios demais. E, para as notas ruins, um abraço apertado e um “tudo bem, pode tentar de novo”. Porque a vida, felizmente, nos dá várias chances de tentar de novo.
Ainda assim, às vezes me pego questionando: por que as notas escolares impactam tanto nossas vidas? No fim, esses números acabam jogados em um papel amarelo, no fundo de uma gaveta esquecida, sem mais importância. No entanto, há anos, permitimos que eles definam o nosso valor, a nossa inteligência, a nossa capacidade.
Durante a graduação, continuei seguindo o padrão da infância: passar na média, com aquele “C” chorado, sofrido, mas que me permitia seguir em frente. A diferença é que, aos poucos, fui entendendo que o valor de uma nota não era o mesmo valor que eu tinha como pessoa. E que as exatas, meu ponto fraco, não poderiam apagar todo o meu esforço e dedicação, mesmo que resultasse em um “C” sofrido.
Hoje, abri a lista de aprovados no mestrado e vi meu nome ali. A sensação de rompimento foi imensa. Óbvio que lá estava ele, meu velho companheiro: o “C”, mais uma vez. Só que, dessa vez, ele não veio como um fardo. O “C” que me acompanhou por tanto tempo agora veio com um sabor diferente. Tinha o gostinho delicioso de ressignificar o peso de uma nota. Um “C” que, para mim, vale como um “A”, como um 100, como um 1000. O adorável sabor de compreender que independente de todos os desafios que encontrei no caminho, eu consegui continuar. O doce sabor do merecimento.
O importante não é a nota em si, mas o que fazemos com ela. As tentativas, as falhas, as conquistas, tudo isso faz parte da nossa caminhada. E, às vezes, aquele “C” salvador nos mostra que não precisamos ser perfeitos para alcançar nossos sonhos. Tento proteger meus filhos dessa lógica, dessa armadilha, mas a verdade é que nós, mães, também estamos aprendendo, também estamos em processo. O “C” que tantas vezes me salvou também me ensinou a salvar a mim mesma, me mostrando que o aprendizado que carregamos no peito é o que define quem somos e para onde iremos.
Por Tatiana de Barros @tatyabli