Sustentabilidade é um tema bastante atual na sociedade, em especial no meio corporativo, mas que eu tive a coragem de trazer para dentro de casa e relacioná-lo com a maternidade.
O termo sustentabilidade de um modo geral, significa equilibrar os recursos disponíveis para o desenvolvimento humano, sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Em outras palavras, significa racionalizar e reaproveitar o que for preciso, destinar de maneira correta o que não pode mais ser utilizado, assim como respeitar a capacidade produtiva das pessoas dentro de um contexto digno de trabalho e renda.
O propósito é lindo, pena que não serve para nós, MÃES!
As mães são exploradas e sugadas até os seus limites, nosso tempo jamais é racionalizado, nossos sentimentos são descartados sem nenhuma preocupação com a contaminação que eles causarão em nossos corações, tão solitários de boas ações. A sujeira e o lixo mental que geramos em meio aos medos, dúvidas e abandonos, são cada vez mais, empurrados para debaixo dos nossos tapetes.
A maternidade é um tipo de capitalismo doméstico, mas sem gerar renda financeira. Ninguém chega pra você te oferecendo um dia de folga ou um final de semana de descanso, afinal de contas você teve livre arbítrio pra escolher ou não ter filhos. As obrigações são suas e aí de você se “faltar” um dia trabalho pra se divertir, você será punida em praça pública com apontamentos de como você é uma péssima funcionária. E assim a gente segue, arrancando todas as nossas árvores, consumindo toda a nossa água, trabalhando até o limite do cansaço físico e mental, sem nenhum equilíbrio entre as obrigações maternas e o autocuidado.
Tudo se torna MÃE, não existe mais a MULHER, aquela que precisou preexistir para que o filho nascesse. Até que o filho nasça nossa obrigação é sermos sustentáveis, você precisa se cuidar para ser atraente e arrumar um relacionamento, precisa manter sua saúde, tudo para se preparar para o momento de gerar uma vida, afinal é através de pessoas que o mundo se sustentará. Porém, após o nascimento você já cumpriu seu papel, agora nada mais é sobre você, sua obrigação agora é doar-se sem medidas para os cuidados e educação da criança que VOCÊ quis colocar no mundo. Vire-se!
São metáforas obviamente super dramatizadas para acolher um desabafo de como nos sentimentos muitas vezes. O mundo tem buscado equilíbrio como um todo, muito se fala em igualdade de gênero e equidade racial, sobre mudança climática, responsabilidade social, mas como mudar o mundo sem que a mudança comece dentro das nossas casas? Sem olhar para quem é instrumento da vida?
Mudanças acontecem a partir de pessoas e pessoas são colocadas no mundo por MULHERES, que querem fazer parte dessa mudança gerando e educando seres humanos melhores, ao mesmo tempo que também querem ser tornar pessoas melhores, mas como fazer isso de forma equilibrada, se o peso da balança está todo do nosso lado? De que adianta se preocuparem tanto com as crianças e esquecerem suas mães, que é quem irá transmitir não só sua carga genética, mas também suas vivências e suas emoções ao longo da jornada?
Gestar, parir, amamentar, puerpério, cuidar da criança, lavar roupas, higienizar acessórios, limpar e manter a casa organizada, cozinhar, se preocupar com o seu trabalho, com as finanças, sem contar todos os outros detalhes de administração do lar. Isso tudo é voltado para a criança e para a família e sem nenhum equilíbrio.
Mas quando se trata de VOCÊ, MULHER, o equilíbrio existe apenas para te derrubar. Se você se cuidar, fizer exercício físico, for ao salão ou sair com as amigas, você está sendo vaidosa e não está dando prioridade ao seu filho. Se você não se cuidar, você estará sendo desleixada e estará dando motivos para que seu marido te largue ou que ninguém mais se interesse por você. Se você contrata alguém pra te ajudar com o bebê ou com a casa, você é preguiçosa e está terceirizando a maternidade, mas se você tem condições e não contrata, estará se vitimizando e sendo proibida de reclamar sobre cansaço ou solidão.
A maternidade para a grande maioria das mulheres é, de uma forma conceitual, totalmente insustentável, mas ainda assim resistimos e eu atribuo a isso outro conceito que se sobrepõe ao da sustentabilidade, que é o PROPÓSITO. Para que as empresas e a sociedade como um todo se tornem sustentáveis a longo prazo, é necessário que haja propósito em suas ações. E não existe propósito maior e mais importante no mundo do que gerar vidas e amar outro ser humano em detrimento do seu próprio amor. É esse amor e esse propósito que fazem tudo se sustentar e se manter, mesmo que muitas vezes em desequilíbrio, assim como faz a TERRA; lógico que esse desequilíbrio muitas vezes causa tormentas, desastres naturais, mas em seguida a própria natureza se responsabiliza por colocar tudo no seu devido lugar.
Assim somos como mães, nossas dores e nossa sobrecarrega às vezes nos devastam como furacões, mas logo depois nossa NATUREZA DE AMAR acalma e restabelece o equilíbrio que nós mesmas balizamos, nem sempre para o lado justo, mas sempre para o lado do AMOR aos nossos filhos!
Por Adriana Santiago – @adriana.santiago.adv