Meu filho foi crescendo e assistindo a mãe entrar no quarto de estudos para acompanhar as aulas remotas (ingressei no programa de mestrado durante a pandemia e, por ser em outro estado do qual resido, tive as garantias de permanecer cursando remotamente).
Sempre fui uma aluna dedicada e implicada. A criatividade é um traço importante de minha experiência. Sou filha de costureira que criava coisas com retalhos: colchas, panos de pratos, roupas de boneca… e foi essa mulher, estudante e professora, que me alfabetizou.
Escrever meu projeto de mestrado foi uma travessia muito difícil para mim. Uma experiência nunca vista antes, pois tenho facilidade com as palavras. Neste trajeto, começamos a luta de investigação de um risco de TEA de meu filho e os desafios que essa realidade impõe. Mudamos ele de escola, de Clínica e profissionais que o acompanham e na rotina da exaustão de conviver com a gestão de tantas novidades.
Sou Psicóloga e atuo como Terapeuta de Família e Casais e isso é fundamental para olhar os desafios com amplitude e possibilidades. Mas aqui estou como mãe! Aí a dança é, por vezes, descompassada. O projeto travou! Precisei refazer o objeto de estudo, o desenho da pesquisa que tivesse maior conexão com minha trajetória pessoal e profissional. Como lindamente declarou Mana Bernardes, artista transdisciplinar brasileira “morar em si primeiro”, foi exatamente o que fiz. Voltei-me para minha história!
A primeira versão antes da qualificação saiu! E depois, a vida e suas rasteiras me pregaram uma: o luto pela morte de minha mãe! Sou estudiosa do tema e aqui novamente uma troca de papéis do lugar de quem cuida dos enlutados para viver a minha experiência!
Pedido de prorrogação do prazo para o exame! Após um tempo, juntei os cacos, como na colcha de retalhos e fui tecendo novamente o projeto e preparando-o para ser apresentado. Um dia antes, meu filho desregulou emocionalmente (foi mais um recorte para essa colcha) e, com a bravura da sertaneja, lá fui eu apresentar o projeto com a alma de aprendiz que me auxiliou nesta travessia.
Projeto qualificado e a colha de retalhos novamente está sendo refeita, agora para escrever os artigos e fechar esse ciclo bordando minha trajetória de estudante com os desafios, lutos, superações que uma estudante, mãe e enlutada podem alinhavar.
Emanuele Lopes,
Estudante, Mãe de Theo e Psicóloga.