O “lado Mãe” da moeda

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Eu devia ter uns quatro, cinco anos. Me lembro das inúmeras vezes que minha mãe me deixava aos prantos na escola. Chorava muito, me debatia no colo das professoras e tanto fazia que muitas vezes ia parar na diretoria por “mau comportamento” para que ela fosse me buscar. (hoje em dia chamaria isso de “ninguém me ouvia, porque criança não tem voz”).

A sensação que eu tinha é que ela estava o tempo todo tentando se “livrar” de mim (o que hoje, como mãe, confesso entender como uma visceral necessidade).

Um dia, numa sessão de terapia, essas memórias vieram pra superfície e ali creditei parte da minha sensação de abandono. Fiz ela caber em algum lugar palpável. UFA, um molde pra essa dor! Agora podia continuar usando esse escudo com mais propriedade porque “sabia” minimamente de onde vinha tamanho incômodo.

Gente é bicho estranho né? Gosta de uma dor pra chamar de sua e por vezes tanto adora que ela chega na frente do próprio nome, toda bem vestida pra que a gente não passe despercebida à compaixão do outro.

Óh dor, poderosa e legítima protagonista de tantas histórias! Desconforta e alerta tanto que registra nas células mais que o próprio amor. Esse, por sua vez, que persista pra ser lembrado!

Há 20 anos eu saí de casa. Volto hoje com uma centena de sessões de terapia na mala e um filho de 5 anos. Precisava do colo dela.

“Mãe, você lembra quando eu era pequena o quanto eu me desesperava quando você me deixava na escola?”

“Lembro, filha! Você acha que era só você que se desesperava? Eu não sabia lidar com aquilo. Deixava você e ficava escondida atrás do poste, do outro lado da rua, esperando ouvir você se acalmar. Passava horas lá esperando você sair pro recreio pra te ver brincando no parquinho feliz. Só então, eu ia embora…”

“É, mãe…”


Agora to aqui me reescrevendo pra entender quem sou sem essa parcela de dor que não mais me sustenta.

Por Mumu Motta – @mumumotta

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