Em tempos tão difíceis, a pandemia pinta cenários inimagináveis de dor, desolação e perante as escancaradas injustiças sociais, localizam-se dores ainda mais perversas nas grandes áreas de vulnerabilidade e de risco social.
Sim! São as muitas mães, crianças e famílias ainda mais dilaceradas pela pandemia que aprofunda a condição da miséria material, da orfandade de direitos e constante risco aumentado de milhares de pessoas.
E da escola vejo, como educadora e mãe, o desespero de muitas mulheres que sem direito de opção, são obrigadas a enviar seus filhos às escolas, lugar que se configura historicamente a única garantia de segurança alimentar e social de seus filhos, realidade ainda mais afirmada tristemente na atualidade.
São tempos que nos trazem esse olhar de humanidade sobre as fragilidades do humano e da extrema injustiça produzida também por nós humanos, agentes das contradições presentes nos nossos medos, nas nossas diferenças e nas nossas condutas.
Escutando histórias de vida, relatos de alegria de uma criança que recebe em casa as materialidades da escola, que em meio a tanto sofrimento sorri, retomo a canção de Gonzaguinha que evoca a alegria pela opção pela resposta das crianças: “ é a vida, é bonita e é bonita!” e relembrando esse e outros refrões em outras várias canções e versos, reafirmo a importância da vida, do direito a estar vivo e de usufruir do bom da vida.
Tento ver e sentir, e fundamentalmente aprender com essas mães e crianças, no misto de medo e esperança, a ter fé na força da vida.
Lutas são travadas, injustiças reveladas e as dores compartilhadas, parece assim arrefecer momentaneamente os pesos da vida. Encarar as realidades daqui deste lugar, é privilégio de quem pode acolher, amparar, mas também denunciar a crueza de um mundo que objetiva interesses outros que não a vida.
Autora: AlexSandra Andrade Neves, sou mineira, mas residindo em Campinas SP há vinte anos, mãe de Vitor Hugo e Valdemar Neto. Sou supervisora educacional na cidade.